Thursday, April 21, 2011

CRUMAR Toccata organ (texto em português)



Fundada por Mario Crucianelli no final dos anos 60/início dos 70, a Crumar foi uma empresa italiana muito famosa na sua época, principalmente pelos sintetizadores, teclados e orgãos - alguns compatos, outros nem tanto - que fabricava. Mario era irmão de Pierro Crucianelli, presidente da Elka, outra marca italiana muito conhecida. A Crumar existiu até 1987 e seu auge foi na segunda metade dos anos 70, quando colocou no mercado os seus “pianoman” e “stringman” (1974) e, na sequencia, o modelo que unia os dois em um só, o “multiman” (1977). Mas talvez os instrumentos mais bacanas sejam os “clones de orgão Hammond” feitos pela Crumar a partir de 1974, que tinham um som muito próximo aos Hammond, porém eram muito mais compactos e pesavam muito menos que os originais.

O modelo Toccata surgiu em 1981 como a versão mais compacta de todos os modelos anteriores destes “clones de Hammond” (mais especificamente do modelo T1/C, cuja principal diferença era ter uma oitava a mais que o Toccata e os drawbars típicos dos Hammond). Sua fabricação durou até 1986.


Com quarto oitavas de extensão (49 teclas) o Toccata é totalmente polifônico e vem de fábrica com oito presets com variados timbres de orgão, indo do som com harmônicos mais graves ao com harmônicos mais agudos. Tem também controles de vibrato e um simulador de caixa Leslie muito interessante e próximo do som de uma original – o mais próximo que encontrei em orgãos que tem este recurso internamente. Ambos (o vibrato e o simulador de Leslie, aqui chamado de “Chorale”), tem duas velocidades pré-ajustadas e o “Chorale” pode ser selecionado através de um foot-switch comum ligado por um simples cabo P-10 na parte traseira do instrumento. Dois controles de percussão das notas (em 4’ e 2 2/3’), com volume e decay independentes do som presetado, além de um click para as notas (sendo este último um treco inútil, pelo menos para mim). Um knob para afinação e uma saída de áudio (juntamente com o já citado jack para o foot-switch) na parte traseira completam o Crumar Toccata.





Não achei informação sobre nenhum artista que tenha utilizado o Toccata em alguma gravação. É dificil até mesmo achar alguém – conhecido pelo menos – que tenha utilizado algum instrumento da Crumar (achei apenas referências ao Nick Rhodes do Duran Duran e ao jazzista débil-mental (no melhor sentido da palavra) Sun Ra, além da curiosidade que o próprio Dr. Robert Moog e o engenheiro Jim Scott estiveram envolvidos com o design do sintetizador Spirit, fabricado pela Crumar em 1983). Mas eu usei o meu em praticamente todos os discos que gravei como principal som de orgão, inclusive no meu primeiro disco solo, “Petiscos: sabor churrasco/switched-on Bah!”, no disco que gravei com o Jimi Joe, “Saudade do futuro”, em um dos que gravei com o Jupiter Maçã, “Uma tarde na fruteira” (cujo som é praticamente o instrumento principal nas músicas “Marchina psicotica do dr. Soup”, Mademoiselle Marchand” e “Sorvete com voces”) e em várias músicas do meu grande amigo Plato Divorak que tive o prazer de participar! É o orgão que levo para praticamente todos os shows que realizo ou participo – junto com meu Moog Prodigy são os intrumentos que possuo que mais viajaram pelo Brasil!

Tenho meu Crumar Toccata desde mais ou menos 1997. O primeiro disco que utilizei ele foi também a primeira gravação profissional na qual participei, o disco d’ Acretinice me Atray (lançado em 1998). Adquiri ele do Fabio Bohn, dono da Arbon, conhecido fabricante de orgãos e harmonios de fole em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Não lembro bem quanto paguei, mas acho que foi o equivalente a uns 500 dólares, caro até se formos comparar com outros instrumentos que comprei no mesmo período. O Fabio tinha também uma caixa tipo “Leslie” da Yamaha e lembro de ter ficado ao mesmo tempo feliz por comprar o orgão e triste por não ter dinheiro o suficiente para a caixa. O número de série do meu é R8/006 3 (pelo menos é o que consigo ler dele, não está bem impresso) e, pelo uso constante, já tive que fazer alguns ajustes e reformas nele (as principais foram trocar o soquete de fusível e refazer toda a parte traseira do orgão - ambos que quebraram durante um vôo de Recife a Porto Alegre, em dezembro de 2009. Para trocar a madeira tive a ajuda do meu amigo Rogério Severo, artista plástico uruguaianense que reside em São Leopoldo).


photos: Kay Mavrides

Gravei este video no dia 19 de abril de 2011!



Achei este anúncio bacana, dos anos 80, na internet:

Friday, April 01, 2011

WURLITZER 200A electronic piano (texto em português)



Os primeiros pianos eletrônicos Wurlitzer surgiram na segunda metade do século passado a partir de uma invenção do norte-americano Benjamin Meissner. Na década de 1930 ele usou um captador eletrostático para amplificar o som de um piano tradicional e este sistema foi utilizado, primeiramente, pela Everett Piano Company. Mais tarde, já nos anos 50, a Wurlitzer Company comprou a patente da invenção de Meissner, finalmente trocou as cordas do piano pelas famosas palhetas de metal e em 1955 o primeiro piano eletrônico Wurlitzer surgia no mercado.

O funcionamento de um Wurlitzer é muito simples. Bom, na verdade não tão simples quanto o funcionamento de um piano elétrico Rhodes, mas ainda muito simples: uma tecla aciona um martelo - mais ou menos como os martelos de um piano tradicional, mas bem menor – que por sua vez bate em uma palheta feita de metal cujo som é captado por um enorme captador eletrostático e o sinal é pré-amplificado e amplificado internamente no instrumento. O piano tem ainda um pedal de sustain que também funciona de maneira simples: uma alavanca acionada pelo pé gera tensão em um cabo que por sua vez aciona um mecanismo parecido com o de sustentação de nota de um piano tradicional.


O modelo 200 surgiu em 1968 e o 200A (o mais conhecido dos vários fabricados pela companhia) em 1972. Eram menos pesados do que os modelos anteriores, um pouco mais de 25 kilos sem os pés, sem o pedal e sem case. A extensão do teclado do 200A é de 64 notas, indo de LÁ (equivalente ao segundo Lá de um piano convencional) ao DÓ agudo (equivalente ao penultimo Dó de um piano convencional). A fabricação do 200A durou até 1982 e era vendido nas cores preta e verde (existem alguns 200A na cor branca, como os utilizados pelo Supertramp, pelos Beach Boys e pelos Carpenters, mas estes eram versões customizadas por encomenda, não eram comercializadas normalmente). Em 1978 surgiu ainda o modelo 200B, mas este não tinha muitas inovações, era visualmente idêntico ao 200A, porém podia ser ligado com uma bateria recarregável e não tinha amplificador nem alto-falantes internos. Nunca vi no Brasil nenhum dos outros modelos, embora conheça cerca de 10 pessoas (além deste Pinguim que escreve aqui) que possuem um 200A.

Entre os principais artistas e bandas a utilizarem um Wurlitzer posso dar uma lista quase infinita de gravações. Para ficar nas mais conhecidas mundialmente, cito o Supertramp (o som do piano é várias vezes confundido com o próprio som da banda, vide os clássicos “The logical song”, “ Dreamer” e “Breakfast in America”. Além disso a banda foi, sem sombra de dúvida, a principal difusora da marca durante sua existência), Pink Floyd (“Money”, “Breathe”, “Time” e “Have a cigar”), The Archies (na conhecidíssima “Sugar sugar”) The Kingsmen (na não menos conhecida “Louie, louie”), The Seeds (praticamente todas as suas músicas eram baseadas no som do Wurlitzer ou do orgão Farfisa), The Doors (na belíssima “Queen of the highway”, presente no disco Morrison Hotel/Hard Rock Café e no blues “Crawling King Snake, do disco L.A. Woman) Elton John (“Lady Samantha” e “Heart in the right place”), John Lennon (“How do you sleep”, entre outras), Paul McCartney (“Ram on”), Queen (“You are my best friend”, do magnífico álbum A night at the opera), The Rolling Stones (“Miss you”), Steely Dan (“Do it again”, entre muitas outras), Stevie Wonder (“Love having you around”, “Sweet little girl” e “Tuesday heartbreak”) e Sun Ra (em várias faixas, incluindo a primeira utilização de um Wurlitzer na história da música, em gravação datada de 1956).



O meu Wurlitzer 200A foi comprado de um cidadão cujo nome eu não lembro, acho que era Edson - ou Edson era o nome do guitarrista da banda, que estava presente na ocasião em que fui buscar o piano. Sei que ambos tocavam em um conjunto de baile muito famoso no Rio Grande do Sul chamado “Impacto”. Comprei mais ou menos em 1997, durante as gravações do disco “Era uma vez um gato xadrez” da Acreticine me Atray, banda que eu fazia parte na época. Lembro de ter utilizado ele em uma ou duas músicas no máximo, pois estavamos finalizando o disco. Na época cheguei a levar ele para alguns shows, tanto d’Acretinice quanto de outras bandas e artistas que eu fazia “participações especiais”. O piano estava cheio de cupins e desmontei ele inteiro para reformar e pintar novamente! Ja comprei sem o knob de vibrato e com uma ou duas palhetas quebradas, mas muitas mais foram quebrando ao longo dos anos. É dificil de achar (tanto palhetas quanto um Wurlitzer inteiro) mas sei que se consegue pela internet, em uma loja na cidade de Melbourne, Austrália. O número de série do meu piano é 76.159 ou seja, fizeram mais de 76 mil antes de colocarem o meu na rua – a maioria para dentro dos Estados Unidos, já que ele era fabricado em Illinois.




Algumas curiosidades a respeito do piano eletrônico Wurlitzer:
- O “eletrônico” presente no nome foi utilizado para diferenciar de um “piano elétrico” fabricado anteriormente pela Wurlitzer. Tratava-se de um instrumento interesantíssimo chamado “Orchestrion”, datado do início do século passado! Vale a pena buscar na internet informações sobre o “Orchestrion”! É, na minha opinião, um dos instrumentos mais curiosos e inovadores antes da invenção do sintetizador, criando o conceito que anos mais tarde originaria toda a automação e sincronia entre instrumentos musicais e todo o conceito de MIDI!
- A Wurlitzer era uma famosa fábrica de orgão tubulares e de jukeboxes antes de se tornar mundialmente famosa pelos pianos eletrônicos.
- O primeiro artista a gravar com um Wurlitzer foi o musico de jazz “fora da casinha” Sun Ra, em 1956, e o primeiro artista de fama internacional foi Ray Charles na faixa “What I’d say”, em 1959.


photos: Kay Mavrides


Gravei este video com uma pequena demonstração do meu Wurlitzer no dia 30 março de 2011!