Fundada por Mario Crucianelli no final dos anos 60/início dos 70, a Crumar foi uma empresa italiana muito famosa na sua época, principalmente pelos sintetizadores, teclados e orgãos - alguns compatos, outros nem tanto - que fabricava. Mario era irmão de Pierro Crucianelli, presidente da Elka, outra marca italiana muito conhecida. A Crumar existiu até 1987 e seu auge foi na segunda metade dos anos 70, quando colocou no mercado os seus “pianoman” e “stringman” (1974) e, na sequencia, o modelo que unia os dois em um só, o “multiman” (1977). Mas talvez os instrumentos mais bacanas sejam os “clones de orgão Hammond” feitos pela Crumar a partir de 1974, que tinham um som muito próximo aos Hammond, porém eram muito mais compactos e pesavam muito menos que os originais.
O modelo Toccata surgiu em 1981 como a versão mais compacta de todos os modelos anteriores destes “clones de Hammond” (mais especificamente do modelo T1/C, cuja principal diferença era ter uma oitava a mais que o Toccata e os drawbars típicos dos Hammond). Sua fabricação durou até 1986.
Com quarto oitavas de extensão (49 teclas) o Toccata é totalmente polifônico e vem de fábrica com oito presets com variados timbres de orgão, indo do som com harmônicos mais graves ao com harmônicos mais agudos. Tem também controles de vibrato e um simulador de caixa Leslie muito interessante e próximo do som de uma original – o mais próximo que encontrei em orgãos que tem este recurso internamente. Ambos (o vibrato e o simulador de Leslie, aqui chamado de “Chorale”), tem duas velocidades pré-ajustadas e o “Chorale” pode ser selecionado através de um foot-switch comum ligado por um simples cabo P-10 na parte traseira do instrumento. Dois controles de percussão das notas (em 4’ e 2 2/3’), com volume e decay independentes do som presetado, além de um click para as notas (sendo este último um treco inútil, pelo menos para mim). Um knob para afinação e uma saída de áudio (juntamente com o já citado jack para o foot-switch) na parte traseira completam o Crumar Toccata.
Não achei informação sobre nenhum artista que tenha utilizado o Toccata em alguma gravação. É dificil até mesmo achar alguém – conhecido pelo menos – que tenha utilizado algum instrumento da Crumar (achei apenas referências ao Nick Rhodes do Duran Duran e ao jazzista débil-mental (no melhor sentido da palavra) Sun Ra, além da curiosidade que o próprio Dr. Robert Moog e o engenheiro Jim Scott estiveram envolvidos com o design do sintetizador Spirit, fabricado pela Crumar em 1983). Mas eu usei o meu em praticamente todos os discos que gravei como principal som de orgão, inclusive no meu primeiro disco solo, “Petiscos: sabor churrasco/switched-on Bah!”, no disco que gravei com o Jimi Joe, “Saudade do futuro”, em um dos que gravei com o Jupiter Maçã, “Uma tarde na fruteira” (cujo som é praticamente o instrumento principal nas músicas “Marchina psicotica do dr. Soup”, Mademoiselle Marchand” e “Sorvete com voces”) e em várias músicas do meu grande amigo Plato Divorak que tive o prazer de participar! É o orgão que levo para praticamente todos os shows que realizo ou participo – junto com meu Moog Prodigy são os intrumentos que possuo que mais viajaram pelo Brasil!
Tenho meu Crumar Toccata desde mais ou menos 1997. O primeiro disco que utilizei ele foi também a primeira gravação profissional na qual participei, o disco d’ Acretinice me Atray (lançado em 1998). Adquiri ele do Fabio Bohn, dono da Arbon, conhecido fabricante de orgãos e harmonios de fole em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul. Não lembro bem quanto paguei, mas acho que foi o equivalente a uns 500 dólares, caro até se formos comparar com outros instrumentos que comprei no mesmo período. O Fabio tinha também uma caixa tipo “Leslie” da Yamaha e lembro de ter ficado ao mesmo tempo feliz por comprar o orgão e triste por não ter dinheiro o suficiente para a caixa. O número de série do meu é R8/006 3 (pelo menos é o que consigo ler dele, não está bem impresso) e, pelo uso constante, já tive que fazer alguns ajustes e reformas nele (as principais foram trocar o soquete de fusível e refazer toda a parte traseira do orgão - ambos que quebraram durante um vôo de Recife a Porto Alegre, em dezembro de 2009. Para trocar a madeira tive a ajuda do meu amigo Rogério Severo, artista plástico uruguaianense que reside em São Leopoldo).
photos: Kay Mavrides
Gravei este video no dia 19 de abril de 2011!
Achei este anúncio bacana, dos anos 80, na internet: