Saturday, May 10, 2014

Entrevista com Peter Mauzey


Peter Mauzey nasceu em Poughskeepsie, cidade localizada no estado de New York, USA, em 1930. Durante sua infância e adolescência ele tocou clarinete e também tornou-se técnico em eletrônica autodidata, e foram exatamente estes dois interesses - a música e os equipamentos eletrônicos - que levaram Peter Mauzey a tornar-se um dos mais importantes personagens "nos bastidores" - vamos utilizar este termo - dos primórdios da música eletrônica nos Estados Unidos da América. Na metade dos anos 50, quando Peter era estudante na Columbia University e também, entre tantas outras atividades no campus, Engenheiro Chefe da estação de rádio da Columbia, ele teve a oportunidade de contatar o professor e compositor Vladimir Ussachevsky, e tornou-se o primeiro diretor de engenharia do recém instalado Columbia-Princeton Electronic Music Center, em 1959.

Mais tarde, também na Columbia University, Peter Mauzey foi um dos instrutores do então estudante Robert Moog que, juntamente com Herb Deutsch, construiria seu próprio sintetizador em 1964 e com isso mudaria para senpre o mundo da música através da sua empresa R. A. Moog Co. (mais tarde Moog Music). Peter Mauzey também desenvolveu e construiu uma variedade enorme de equipamentos eletrônicos e foi responsável por vários componentes e aprimoramentos no famoso RCA Music Synthesizer Mk II, localizado no Columbia-Princeton Electronic Music Center.

Eu tive a oportunidade de contatar o Peter Mauzey via email para esta entrevista (e quando eu digo oportunidade eu quero dizer uma oportunidade muito grande mesmo, já que não é exatamente fácil encontrar material sobre o Peter na internet). Então é isso. Muito gentilmente, Peter aceitou fazermos esta entrevista que aqui está! 

Milton Babbitt, Peter Mauzey e Vladimir Ussachevsky
com o sintetizador RCA mk II (1958)
ASTRONAUTA - Peter, onde e quando você nasceu e morou durante a sua infância? E como foi seu primeiro contato com a música e as artes?

PETER MAUZEY - Eu nasci em 1930, na cidade de Poughkeepsie, New York, Estados Unidos. Dos seis anos de idade até a faculdade, eu morei em Saratoga Springs, New York, Estados Unidos. Eu gostava de ouvir música, especialmente música clássica, e ficava intrigado com as artes. Eu tocava clarinete na banda da escola, no segundo grau - não tocava muito bem, como meu pai fazia questão de me assegurar.

ASTRONAUTA - Como você se interessou por equipamentos e pela música eletrônica?

PETER MAUZEY - Meu interesse por eletrônica foi inicialmente motivado pela Segunda Guerra Mundial. Quando os rádios paravam de funcionar na nossa casa, técnicos e peças de reposição eram difíceis de encontrar. Então eu me tornei um técnico autodidata, também para outras famílias, eventualmente. Esta atividade continuou quando eu deixei Saratoga Springs e passei a frequentar a Columbia University, em New York.

ASTRONAUTA - Como foi seu primeiro contato com Vladimir Ussachevsky?

PETER MAUZEY - Eu não reconheci o significado do meu encontro com Vladimir Ussachevsky na época que nos conhecemos. Minha habilidade no conserto de equipamentos eletrônicos era conhecida no campus da Columbia University e Ussachevsky era encarregado dos equipamentos eletrônicos no Departamento de Música. Ele me perguntou se eu poderia fazer a manutenção nos toca-discos da Biblioteca de Música; eu concordei. Além disso, como Engenheiro Chefe da estação de rádio da Columbia, a WKCR, eu convidei Vladimir para ouvir alguns efeitos criados com os recém adquiridos gravadores de fita da estação. Incluindo aí a reverberação obtida pela combinação do áudio sendo reproduzido, realimentado juntamente com o sinal gravado. Com estes eventos e outros, comecei minha parceria com Vladimir, que durou até o dia da sua morte.

ASTRONAUTA - Você pode nos contar um pouco sobre seu primeiro contato com o RCA Music Synthesizer? E qual foi a sua colaboração no desenvolvimento deste sintetizador?

PETER MAUZEY - Por razões que eu desconheço por completo, a RCA concordou em desmontar o seu sintetizador, colocar as peças em caixas e enviar estas caixas para o Music Center. Eu e alguns outros estudantes da Columbia juntamos todas as peças, com a ajuda de uma farta documentação, fornecida pela RCA.

Na sua configuração original, o RCA gravava em discos de laca (acetato). Nós decidimos então que, ao invés de gravar em discos, gravaríamos em fitas magnéticas. Eu projetei e construí um meio ótico de sincronizar o sintetizador com o gravador de fita.

ASTRONAUTA - E quanto ao Columbia-Princeton Electronic Music Center? Como era trabalhar lá?

PETER MAUZEY - Trabalhar no Music Center era agradável. Eu podia combinar o ensino de alunos empregados do Center com a criação de equipamentos eletrônicos. Os impedimentos, no início, foram que eu era estudante da graduação ao mesmo tempo que era instrutor no Columbia Electrical Engineering Department.

ASTRONAUTA - Como e quando você conheceu o Robert Moog? E quais são suas memórias dele?

PETER MAUZEY - Robert Moog era estudante em um curso de circuitos eletrônicos no qual eu era instrutor, no laboratório. Ele formulava várias questões incisivas, como os outros estudantes também faziam. Eu não sei se na época ele já estava consciente do seu espírito empreendedor; eu não estava.

ASTRONAUTA - Como você vê as mudanças nas tecnologias aplicadas à música e às artes durante as últimas seis décadas e como você enxerga estas mudanças hoje em dia, olhando retrospectivamente?

PETER MAUZEY - A onipresença dos computadores programáveis é a mudança mais óbvia. Eu não sou qualificado para julgar se isto possibilitou ou não a criação de uma música melhor. Computadores facilitaram a combinação de áudio e efeitos visuais, unificaram isto. Além disso, nos últimos sessenta anos, os circuitos integrados têm tornado os equipamentos eletrônicos menores, mais confiáveis, com menor necessidade de energia e, muitas vezes, baratos o suficiente para serem descartados ao invés de valer a pena o seu reparo. 

ASTRONAUTA - Quais são seus projetos mais recentes e próximos planos?

PETER MAUZEY - Eu me aposentei do trabalho remunerado, mas me mantenho ocupado como voluntário. Ainda atuo como técnico de reparos, com ênfase nos computadores. Além disso, eu sou um dos muitos graduados da Columbia que entrevistam os estudantes do segundo grau que se inscrevem para ingressar na Columbia University, e eu oriento os alunos admitidos. Minha orientação me levou a tornar-me um membro da Sociedade dos Diplomados da Columbia.

Eu sou sócio vitalício sênior do Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE), e membro da Audio Engineering Society. Também sou membro do Acoustical Society of America. Estou ativo no IEEE e no Geographic Activities Student Activities Committee e como membro na seccional de New York do IEEE.

Foto: Kristeen MacCartney (2009)

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