Harry Gilbert Trythall nasceu na cidade de Knoxville, Tennessee, no dia 28 de Outubro de 1930. Ele começou a compôr e a estudar piano muito cedo, na sua infância, e aos 16 anos de idade, Gil Trythall apresentou-se pela primeira vez como pianista solo, em 1947. Nos anos 50, ele teve seu primeiro contato com a música eletrônica que estava sendo criada nos Estados Unidos e na Europa. Em 1960, graduou-se em Teoria Musical e Composição, na Cornell University, em Ithaca, NY, e em 1964 juntou-se ao corpo docente do George Peabody College for Teachers em Nashville, Tennessee. E foi justamente no George Peabody College que Gil Trythall projetou e construiu o primeiro estúdio de música eletrônica da instituição.
Em 1968, o George Peabody College recebeu uma verba e, para aumentar e desenvolver ainda mais o estúdio de música eletrônica da instituição, um recém lançado sintetizador Moog IIIc foi adquirido. Também foram implantados cursos de síntese musical no currículo do George Peabody College. No início dos anos 70, Gil Trythall recebeu uma encomenda do produtor Rick Powell, da Athena Records, para fazer um disco com versões de músicas clássicas utilizando o sintetizador Moog. "Switched On Nashville", lançado em 1972, foi um sucesso e então outro disco similar for encomendado e lançado em 1973, "Nashville Gold." No mesmo ano, 1973, a editora Grosset & Dunlap publicou o livro "Principles and Practice of Electronic Music", escrito por Gil Trythall, com prefacio escrito por Robert Moog. Em 1980, Gil Trythall lançou um LP contendo duas de suas próprias composições, "Luxikon" e "Echospace." Este disco é realmente uma jóia rara da música eletrônica e todos que tiverem interesse no gênero deveriam escuta-lo!
Durante sua carreira como professor, Gil Trythall lecionou no Knox College, no Peabody College (hoje parte da Vanderblit University), na West Virginia University, no Brookhaven College (em Dallas) e, entre 1999 e 2001, na Universidade do Espirito Santo, Brazil, como professor convidado. Ele também projetou um programa de computador para treinamento do ouvido, o KBA Software, e você pode encontrar mais informações no site oficial do programa: www.musicstudy.com
Meu primeiro contato com Gil Trythall foi via Facebook e, a partir daí, via email, através do seu site oficial. Eu gostaria muito de agradecer ao Senhor Trythall pelo tempo que ele gentilmente cedeu para responder esta entrevista, e também agradeço à Carol Trythall, esposa do Gil, por algumas das fotos que estão publicadas aqui. E agora vamos à entrevista com Gil Trythall!
Foto: Carol Trythall. |
ASTRONAUTA - Gil Trythall, quais foram seus primeiros passos na música e nas artes? E qual o tipo de música, quais compositores eram os seus preferidos na sua infância e adolescência?
GIL TRYTHALL - Nascido no dia 28 de Outubro de 1930, eu cresci escutando minha mãe tocar músicas clássicas e populares ao piano. Quando tínhamos convidados para jantar, nos anos 30, eles se reuniam em volta do piano e minha mãe me encorajava a cantar, me acompanhando ao piano. Eu aprendi por conta própria a tocar um pouco de piano, utilizando um livro para iniciantes.
Eu comecei a ter lições formais de piano aos 13 anos de idade, e também comecei a compor nesta época. Minha primeira aparição publica foi como solista, executando uma composição original para piano e conjunto de sopros, a Smokey Mountain Rhapsody, em um acampamento musical na cidade de Gatlinburg, Tennessee, USA, no verão de 1947. Eu tinha 16 anos de idade.
Eu tocava e escutava tanto música clássica quanto música popular. Meus compositores favoritos eram Gershwin, Shostakovich e Debussy.
ASTRONAUTA - Como foi seu primeiro contato com a música eletrônica e com os sintetizadores?
GIL TRYTHALL - Eu tinha discos com composições para tape feitas na Europa e nos Estados Unidos nos anos 50 - e início dos 60. Consequentemente, quando eu fui convidado a juntar-me ao corpo docente do George Peabody College for Teachers, em Nashville, Tennessee, USA, em 1964, eu comecei a montar um estúdio de gravação, no meu escritório. O estúdio tinha um gravador stereo Ampex, com velocidade fixa de 7.5 pés por segundo; um gravador stereo Roberts, com três velocidades (3.75, 7.5 e 15 pés por segundo,) uma barra com marcação para cortar as fitas, as fitas, uma régua, um oscilador de onda senoidal, e um grande oscilador extra, material de sobra da guerra. Eu pendurava várias oitavas de fitas pré-gravadas com afinações diferentes em cada uma, todas devidamente etiquetadas, na parede do meu escritório. Se eu precisasse de um Sol Sustenido acima do C central, eu ía até a parede e cortava nas fitas a duração necessária. Um bom dia de trabalho produzia cerca de seis segundos de música eletrônica. Estas composições estão, hoje em dia, nos arquivos da University of Tennessee, em Knoxville.
ASTRONAUTA - Como você teve conhecimento dos Sintetizadores Moog pela primeira vez, logo no início da invenção dos mesmos? E como você conheceu o Robert Moog? Quais são suas memórias sobre ele?
GIL TRYTHALL - Quando o George Peabody College recebeu uma verba federal para aprimorar seus cursos de graduação em música, em 1968, a instituição adquiriu um sintetizador Moog IIIc, dois gravadores stereo Ampex de duas velocidades, 7.5 e 15 pés por segundo, um amplificador stereo Macintosh, caixas com alto-falantes, e providenciou um estúdio. Nós adicionamos cursos em síntese musical na Vanderbilt University. Eu e Don Evans criamos performances multimidia com multiplos slides e filmes projetados, e música eletrônica como trilha sonora.
Vídeo: This is a Test
Em 1970 nós começamos uma série anual de concertos para música eletrônica, em vários colégios e universidades, com obras para vozes e instrumentos, acompanhados por gravações em fita. Estes concertos, chamados 'Electronic Music Plus' continuaram a existir por 19 anos. Os programas destes concertos estão, hoje em dia, nos arquivos da University of Tennessee, em Knoxville, Tennessee, USA.
Em 1970 nós começamos uma série anual de concertos para música eletrônica, em vários colégios e universidades, com obras para vozes e instrumentos, acompanhados por gravações em fita. Estes concertos, chamados 'Electronic Music Plus' continuaram a existir por 19 anos. Os programas destes concertos estão, hoje em dia, nos arquivos da University of Tennessee, em Knoxville, Tennessee, USA.
Eu encontrei o Robert Moog pela promeira vez quando ele gentilmente concordou em escrever o prefácio do meu livro, de 1973, Principles and Practice of Electronic Music, publicado pela Grosset & Dunlap, fora de catálogo. (Este livro é útil hoje em dia somente como um registro histórico de como era a música eletrônica antes de 1973.) Nós ficávamos acordados durante todas as noites, editando o livro. Bob Moog era um gênio e um amigo. Eu encontrei-o diversas vezes depois disto. Ele era sempre a mesma pessoa criativa, amigável e generosa, nunca em busca de dinheiro, fama ou posição social.
ASTRONAUTA - Como foi o processo de gravação dos seus discos "Switched On Nashville" (de 1972) e "Nashville Gold" (de 1973)? Quais os sintetizadores que você utilizou para gravar estes discos?
GIL TRYTHALL - Um dia, um produtor, Rick Powell, que recém havia chegado em Nashville para começar um novo estúdio de gravação - Athena Records -, foi até o estúdio de música eletrônica do George Peabody College, onde eu estava trabalhando. O disco Switched On Bach, da Wendy Carlos, era um sucesso e Rick pensou que um disco de música country, todo feito com sintetizadores, seria sucesso também. "Você estaria interessado?" Ele iria produzir, selecionar as músicas, e providenciar um gravador de oito pistas para o serviço. Eu assinei.
Eu transcrevi os discos de 45 rotações que Rick selecionou, de alguns artistas top da country music; e eu escrevi arranjos originais para alguns clássicos da country music. Por três meses eu lecionei e depois trabalhei até muito tarde, à noite, desenvolvendo os patches no Moog, para sintetizar os instrumentos necessários, e depois gravava cada pista separadamente.
Como você sabe, o Moog IIIc é monofônico; então os arranjos tinham que ser com contrapontos, uma solução que meu treinamento em música clássica ajudou muito a resolver. Para os acordes de acompanhamento (pads) eu encontrava os sons e mixava três tons simultâneamente (combinando vários osciladores e filtros) e, com um botão eu alterava o terceiro oscilador entre os intervalos maiores e menores, conforme eu desejasse.
Era divertido! Naturalmente os transistores dos VCOs dos primeiros Moog variavam com as mudanças de temperatura da sala. Muitas vezes um 'bom' take tinha que ser refeito porque a afinação do Moog havia movido para cima ou para baixo. Principalmente para cima. Isto era um ótimo treinamento para os ouvidos!
Eu transcrevi os discos de 45 rotações que Rick selecionou, de alguns artistas top da country music; e eu escrevi arranjos originais para alguns clássicos da country music. Por três meses eu lecionei e depois trabalhei até muito tarde, à noite, desenvolvendo os patches no Moog, para sintetizar os instrumentos necessários, e depois gravava cada pista separadamente.
Como você sabe, o Moog IIIc é monofônico; então os arranjos tinham que ser com contrapontos, uma solução que meu treinamento em música clássica ajudou muito a resolver. Para os acordes de acompanhamento (pads) eu encontrava os sons e mixava três tons simultâneamente (combinando vários osciladores e filtros) e, com um botão eu alterava o terceiro oscilador entre os intervalos maiores e menores, conforme eu desejasse.
Era divertido! Naturalmente os transistores dos VCOs dos primeiros Moog variavam com as mudanças de temperatura da sala. Muitas vezes um 'bom' take tinha que ser refeito porque a afinação do Moog havia movido para cima ou para baixo. Principalmente para cima. Isto era um ótimo treinamento para os ouvidos!
Eu gravei Switched On Nashville com o Moog IIIc da Escola de Música (trabalhando à noite, depois que a escola fechava) e um enorme gravador de oito pistas Ampex, valvulado, que Rick providenciou. E gravei Nashville Gold no Athena Studio, com o Moog IIIc de lá e um gravador Ampex de oito canais transistorizado, mas também tarde da noite. Rick Powell produziu e fez as mixagens finais. Ambos os discos foram sucesso, porém os únicos sucessos que o Athena teve durante sua existência. Eu acho que isso aconteceu porque o estúdio estava sem dinheiro. O Athena fechou, uma tragédia para Rick Powell, um ótimo produtor e músico, que merecia muito mais coisas boas.
ASTRONAUTA - E quanto às suas composições "Luxikon II" e "Echospace", lançadas em LP, em 1980? Quais foram os instrumentos que você usou nestas peças, e como foi o processo de gravação de ambas? Você ainda tem alguns dos sintetizadores que utilizou para gravar estas peças e outros trabalhos seus com música eletrônica?
GIL TRYTHALL - Eu compus Echospace utilizando o Moog IIIc do George Peabody College e dois gravadores stereo Ampex, 7.5/15 pés por segundo, utilizando métodos de manipulação de fitas em estúdio, logo após inaugurarmos o estúdio de música eletrônica. A saída do Moog era gravada no Ampex número 1, com uma das saídas stereo ligadas na entrada do Ampex número 2, para efeito de delay de fita. A gravação do Ampex número 2 era então mixada com a entrada do Moog, canais esquerdo e direito invertidos, e re-gravados no Ampex número 1. Eu editei os resultados cortando pedaços de fita. A estrutura formal consiste em 12 partes de improviso, com afinações derivadas de combinações sucessivas de hexacordes, e uma 13ª parte, que retorna às notas do primeiro hexacorde.
Echospace tem duas versões: a versão gravada e uma versão para apresentação ao vivo, com partes para qualquer número de instrumentos de sopro, dispostos ao longo da sala, para gerarem diferentes ecos.
Eu gravei Luxikon II em 1980, com um Moog IIIc, o circuito de sample and hold de um MicroMoog, e um gravador Ampex de oito canais. Eu ainda tenho meu MicroMoog e meu MiniMoog. Eu vendi meu IIIc. Que erro!
ASTRONAUTA - Como você vê as mudanças, tanto as tecnológicas quanto na maneira que estas tecnologias são utilizadas pelos compositores e pelo público, durante todos estes anos que você está na ativa no mundo musical, como compositor, especialista em sintetizadores e professor?
Foto: Carol Trythall. |
A música eletrônica comercial é hoje um vasto e sem sucedido empreendimento, padrão adotado em trilhas de TV e filmes, há muito tempo não indentificada mais como "música eletrônica". DJs em 'raves' populares divertem enormes e entusiasmados públicos utilizando softwares para computador com apresentacões sampleadas. Concertos e gravações de Rock empregam sintetizadores, efeitos de áudio, processamento de áudio, mixagem, filtros e amplificação.
Ao mesmo tempo, há um pequeno mas dedicado público para a música eletrônica não-comercial, identificada como música eletro-acústica, talvez para distinguir-se da música eletrônica comercial.
O CD número 23 da American Society for Electroacoustic Music serve como uma ótima janela para a música eletrônica praticada hoje em dia. Das oito faixas do disco, quatro são de 'musique concrète', e as outras quatro são para instrumentos executados ao vivo com música eletrônica pré-gravada. Estes estilos de composições vêm dos primeiros anos da música eletrônica. E elas são composições bem realizadas e expressivas.
Outro grupo de compositores de música eletrônica continuou no que se chama de 'new age', 'música ambiente'. Muitas vezes improvisadas, estas incluem sintetizadores, muitas vezes com instrumentos adicionais e/ou sons ambientes. Estas também continuaram uma prática de música eletrônica com sucesso.
Uma novidade no desenvolvimento é a orquestra de laptop, conjuntos de laptop que apresentam músicas eletroacústicas "ao vivo", no palco. Os softwares de computador para processamento em tempo real, mixagem e execução de sucessivos trechos de áudio e/ou gravações simultâneas também providenciam novas possibilidades para apresentações de música eletrônica "ao vivo".
Resumo: tudo vai bem; há um desenvolvimento contínuo nos estilos de música eletrônica, tanto nos formatos quanto nas práticas desta.
ASTRONAUTA - Entre 1999 e 2001 você lecionou na Universidade do Espirito Santo, em Vitória, Espirito Santo, Brazil. Quais são suas memórias deste período?
GIL TRYTHALL - Eu fui professor convidado na Universidade Federal do Espirito Santo entre Maio de 1999 até Abril de 2001. Meu anfitrião, o Dr. Marcos Moraes, não poderia ter sido mais prestativo. Marcos e eu desenvolvemos o currículo para um novo curso de graduação na Universidade. Os estudantes eram entusiasmados e apreciativos.
Também fora do círculo universitário, a população do Brazil é ótima anfitriã, amigáveis e recebendo bem as pessoas. Nós fizemos vários amigos e temos várias memórias ótimas. Adoramos os Trios Elétricos e as festas de rua improvisadas. Uma noite, em Vitória, dois Trios Elétricos estavam competindo, uma ou duas quadras de distância um do outro, tocando músicas diferentes, se aproximando cada vez mais de onde estávamos morando. O efeito foi maravilhoso, muito parecido com as peças orquestrais do compositor norte-americano Charles Ives - só que melhor!
Também fora do círculo universitário, a população do Brazil é ótima anfitriã, amigáveis e recebendo bem as pessoas. Nós fizemos vários amigos e temos várias memórias ótimas. Adoramos os Trios Elétricos e as festas de rua improvisadas. Uma noite, em Vitória, dois Trios Elétricos estavam competindo, uma ou duas quadras de distância um do outro, tocando músicas diferentes, se aproximando cada vez mais de onde estávamos morando. O efeito foi maravilhoso, muito parecido com as peças orquestrais do compositor norte-americano Charles Ives - só que melhor!
Eu e minha esposa Carol retornamos, há alguns anos, para visitar amigos em Vitória e para conhecermos Manaus e a floresta amazônica. Resumindo, nós amamos o Brazil e a população do país, sentimos falta, e esperamos retornar aí, algum dia destes.
ASTRONAUTA - Quais são seus projetos mais recentes e seus planos para o futuro?
GIL TRYTHALL - As imagens dominam a informação, nestes tempos. Consequentemente, eu posto novas (e às vezes antigos) composições no YouTube.
Meu trabalho mais recente, a peça Passacaglia in Eb, combina sons reais gravados em um veículo de assistência no aeroporto de Heatrow, na Inglaterra, com música executada em um sintetizador FM e sampler Yamaha SY99.
Meu trabalho mais recente, a peça Passacaglia in Eb, combina sons reais gravados em um veículo de assistência no aeroporto de Heatrow, na Inglaterra, com música executada em um sintetizador FM e sampler Yamaha SY99.
Vídeo: Passacaglia in Eb
Composições adicionais estão listadas à direita do vídeo.
No final de Abril de 2015, eu postarei (no YouTube) Three Fables, para narrador, samples de música eletrônica de Space Genetics, do Paul Scea e do Eric Haltmeier (com a permissão dos mesmos), com vídeodo deserto, no alto de uma montanha no parque nacional Big Bend, na fronteira do Texas com o Mexico.
Composições adicionais estão listadas à direita do vídeo.
No final de Abril de 2015, eu postarei (no YouTube) Three Fables, para narrador, samples de música eletrônica de Space Genetics, do Paul Scea e do Eric Haltmeier (com a permissão dos mesmos), com vídeodo deserto, no alto de uma montanha no parque nacional Big Bend, na fronteira do Texas com o Mexico.
Muito obrigado, Fabricio Carvalho, por esta oportunidade de relembrar estes fatos.
Gil