Sunday, November 18, 2012

Cinco perguntas para Tim Blake


Timothy Blake nasceu em Shepherds Bush - no oeste de Londres - no dia 06 de fevereiro de 1952. Na adolescência, Tim trabalhou como engenheiro de gravação e foi nesta época que ele conheceu o músico Daevid Allen e foi convidado para fazer parte do Gong, uma banda de "Space-jazz-rock" que ficou muito famosa, em parte por causa de sintetizadores, efeitos eletrônicos e das composições de Tim, registradas principalmente na trilogia "Radio Gnome Invisible". Tim fez parte da "família" Gong entre1971 e 1975.

Quando deixou a banda, Tim já estava trabalhando com o artísta e iluminador francês Patrice Werrener desde 1971, sob o nome de Crystal Machine. O formato de show que a dupla levou aos palcos era muito inovador e o Crystal Machine tournou-se uma das primeiras bandas em todo o mundo a trabalhar exclusivamente com sintetizadores analógicos e iluminação em seus shows (eles foram os primeiros a utilizarem o Laser no mundo do entretenimento, em 1975). O Crystal Machine gravou dois álbuns incríveis ("Crystal Machine", de 1977, e "Blake's New Jerusalem", de 1978, com Jean-Philippe Rykiel no Minimoog) antes de Tim ser convidado para ingressae em outra grande banda de "Space Rock" - o Hawkwind - por um breve período, entre 1979 e 1980. Depois de tocar com a banda em várias ocasiões durante os anos seguntes, Tim Blake voltou a integrar a banda desde 2007 e continua tocando Theremin e "Virtual Lead Guitar" com o Hawkwind desde então.

A discografia de Tim Blake contém mais que 25 álbuns, incluindo seis discos como Tim Blake/Crystal Machine. Estes discos estão disponíveis para download no site de Tim ("Crystal Machine", de 1977, e "Magick", de 1992, estão disponíveistambém em CD). Discos do Gong e do Hawkwind que têm a participação de Tim também são comentados por ele mesmo no site!

Entrei em contato com Tim Blake pela primeira vez via Facebook e perguntei-lhe se poderíamos fazer esta entrevista por e-mail. Ele foi muito gentil e encontrou algum tempo em sua vida ocupada para me enviar de volta a entrevista e aqui está! Senhoras e senhores, Sr. Tim Blake, o homem que colocou muito "Space" dentro do "Rock"!

Crystal Machine ao vivo no Théâtre le Palace, 1977 (foto: Rosa Gauditauno)

ASTRONAUTA - Como você resolveu que seria músico, quais foram os seus primeiros passos na música (eletrônica) e qual foi o seu primeiro sintetizador (ou teclado)? Você ainda tem os instrumentos que você utilizava nos anos setenta?

TIM - Eu deixei a escola muito cedo, aos 16 anos - e SIM - era 1968! Fui imediatamente projetado para dentro de um mundo onde o 'verão do amor' contrastava com a repressão da liberdade na Tchecoslovaquia.
Sempre tive interesses musicais muito profundos durante toda a minha vida. Gostava de tudo, desde música coral, passando pelo barroco até o blues e o rock emergentes nos anos 60 e até mesmo algumas coisas estranhas de musica eletrônica... Berio, Pierre Henri (que tentou, por duas vezes, misturar a sua música concreta a um elemento de rock). Eu tocava trumpete com bastante competencia quando deixei a escola, mas também gostava da harmônica do Blues e de tocar guitarra...


Eu cursei um ano (entre 68 e 69) em uma Escola de Artes em Londres, também. Paralelamente eu me tornei um aprendiz de engenheiro de som, e passei cada vez mais a conviver com músicos (principalmente com o falecido Paul Kossof). Um dia, uma colega - Celia Humphris - me disse que ela tinha conseguido um emprego, iria cantar em uma banda de folk-rock que estava começando, 'Trees' (com quem ela cantou a assombrosa "Garden of Jane Delawney").
Graças à Celia, eu estava no meio de um circuito muito criativo de pessoas, bandas, empresários, artistas de todo o tipo... No final eu fazendo som para o Clearwater uma vez por semana, em shows no All Saints Hall, e na estrada com o High Tide.
Uma noite, no final de agosto de 1969, quando eu estava montando meu equipamento de som para um show do High Tide, alguns rapazes se aproximaram de mim como me perguntaram se eles poderiam tocar como banda de abertura e foi assim que o Hawkwind começou.


A eletrônica na música naquele momento era todo feito com loops e colagens de fita (a segunda fase do Música Concreta, eu suponho) e se divertir com osciladores e unidades de eco...

É claro que naquela época todos nós já tinhamos ouvido o "Switched-on Bach" e, em seguida, surgiu a EMS - uma empresa britânica que começou a fazer sintetizadores - e entramos todos nesta onda, Floyd, Hawkwind, e eu!

Também existiam grandes festivais de música naqueles dias e eu acho que conheci e trabalhei com todos os meus heróis quando eu tinha 18 anos!

Em 1971 eu já tinha uma boa reputação com a manipulação de equipamentos de som. Fui apresentado então ao Daevid Allen e parti para a França com ele, um pouco antes da Páscoa.

ASTRONAUTA - Você fez parte de duas das bandas mais importantes do assim chamado "Space Rock", Gong e Hawkwind (Tim está tocando atualmente com Hawkwind novamente). Quais eram as principais diferenças entre o Gong e o Hawkwind? E qual foi a coisa mais gratificante e a mais irritante de tocar com o Gong e com o Hawkwind?

Hawkwind 1979: Harey Brianbridge, Dave Brock,
Huw Lloyd-Lagton, Tim Blake and Simon King
TIM - Eu vejo pouca similaridade entre os dois grupos, na verdade. A música do Hawkwind sempre foi muitíssimo influenciada pelo amor de Dave Brock pelas baladas folk simples (ele era um músico de rua fantástico, no início) e pelo Blues Rock básico, ritmo 4/4. Se você analisar o repertório surpreendente dos últimos 43 anos, você verá esses dois elementos aparecendo em várias ocasiões, especialmente nos "hits"!

O Gong, por outro lado, era algo muito novo para mim. Daevid tinha trilhado o seu caminho no mundo da música cercado por músicos muito influenciados por Jazz... Soft Machine, em particular. Suas primeiras experiências no que veio a se tornar o Gong foram com jazzistas muito 'avant-garde' - dos quais devemos descatar o incrível músico de instrumentos de sopro Didier Malherbe. O início da banda Gong nos anos 70, com Christian Tritsch, deu-nos uma base deslizante de ritmo, parte muito importante da música Gong.

A linha comum, é claro, foi a abertura para o "espacial", e é aí que, tanto como engenheiro e, mais tarde, como músico, eu fui capaz de encontrar o meu lugar em ambas as bandas.


As coisas mais irritantes​​? Bem, os acordos e negócios "cachorros" para um dos lados - em ambas as bandas - mas certamente não pela mesma razão!
Com o Hawkwind tem sido principalmente o gerenciamento ganancioso e inseguro, e com o Gong, a honestidade de Daevid Allen tem realmente a ser posta em questão!
Arte e negócios sempre foram, na minha vida, muito difíceis de combinar.



As coisas mais gratificantes? Bem, no caso do Gong, o Daevid 'amarelando' e saíndo da banda nas gravações do "Flying Teapot", o que permitiu, eu e Didier, reformarmos o grupo para uma unidade altamente harmoniosa, com Steve Hillage e Pierre Moerlen e, mais tarde, Mike Howlett.
Este foi o formato que me deu a oportunidade real de expandir minhas próprias idéias musicais e, claro, foi quando 90% dos "Angel's Egg" e "You" foram escritos. Malherbe, Hillage e Moerlen são alguns dos músicos mais incríveis com quem convivi, toquei e compús na minha vida.



O Hawkwind sempre foi capaz de me colocar em sintonia quando eu colocava tudo o que eu tinha feito em questão, me oferecendo a chance de encontrar maneiras diferentes para seguir adiante - Dave e eu pensamos 'Onwards' (avante). Você não pode fazer a mesma coisa por 40 anos, deve-se evoluir.
Eu imagino que isto seja assim porque porque muito pouco do material "clássico" do Gong foi realmente escrito quando Daevid estava por perto, que ele tem excursiona persistentemente por tantos anos tocando a mesma música... Daevid muda apenas os nomes e os autores a fim de usufruir do lucro da maneira que melhor lhe convém! Acho que isto acontece basicamente porque ele se envergonha de não ter estado presente na origem de grande parte das músicas que ele tanto gosta e tocar. Deve ser muito triste para ele, lá no fundo!
Fiquei muito contente de ver Steve Hillage de volta na banda, na tour de 2009/10 e ouvir música nova de verdade sendo escrita!


Mas não parece que a criatividade tenha continuado desde que ele saiu de novo!

É claro - a grande coisa sobre tocar com Hawkwind nos 2010s é que eu mudei completamente minhas técnicas musicais, tocando sintetizadores virtuais, controlados pelo Theremin, e minha guitarra - "Onwards" (avante) - não há mais volta!

ASTRONAUTA - Como foi o processo de gravação dos álbuns "Crystal Machine" (1977), "New Jerusalem" (1978) e "Waterfalls in Space" (1979)? Qual foram os sintetizadores que você usou para gravar este álbum? Você ainda tem alguns desses sintetizadores?

TIM - Ah, Dias Analógicos! Bem, meu EMS duplo, um sintetizador modular (tanto Roland quanto Moog), meu fiel Mini Moog, e uma variedade de primeiros equipamentos polifônicos!


É claro - de "Jerusalem" em diante - a maior contribuição para a música do Crystal machine foi encontrar alguém com quem eu realmente gostei de tocar, Jean-Philippe Rykiel.
Além de ser um grande 'mini-moogista' desde muito cedo, Jean-Phi é também um dos pioneiros da síntese polifônica.
Ele se tornou um produtor musical bm sucedido, hoje em dia, especializado em música africana...


Waterfalls in Space foi gravado por Jean-Phi enquanto estávamos ensaiando.


A maior parte do meu equipamento analógico está nas mãos de um colecionador especializado na Inglaterra. Ele é um técnico em eletrônica muito competente, um restaurador. E todo o equipamento parece estar funcionando muito bem de novo!
Meu sistema modular Roland está nas mãos de Romain Turzi, um dos músico de rock eletrônico de hoje em dia.


ASTRONAUTA - Você é sempre mencionado quando o assunto em uma conversa é os sintetizadores EMS! Qual era a sua relação com este equipamento e com os inventores dos synths EMS (Peter Zinovieff, David Cockerell e Tristan Cary), você os conheceu pessoalmente nos anos 70?

Os famosos sintetizadores EMS do Tim Blake 
TIM - Minhas relações com a EMS eram em principalmente com Robin Woob (proprietário hoje em dia) e os técnicos, Graham Wood, Graham Hinton, com quem a maioria das modificações exclusivas para o meu set-up foram concebidos.
Eu conheci Zinovieff, é claro, mas não Cockerell ou Cary. Peter parecia olhar de uma forma estranha para aqueles que tocavam com os sintetizadores EMS, considerando-os como brinquedos que ele vendia para financiar seu enorme estúdio de música para computador. Eu nunca ouvi uma nota de sua música!
Eu acredito que uma vez impressionei Peter, em um almoço na EMS, provando de seu queijo com muito chutney feito em casa (espécie de tempero)! Povo estranho, os músicos eletrônicos!

ASTRONAUTA - Seus álbuns são difíceis de encontrar, tanto em LP quanto em CD, mas você mantém sua discografia solo para download no seu site. Por que você escolheu para manter seus álbuns disponíveis em formato digital em vez de mantê-los nos formatos antigos? Você está gravando ou planejando gravar material novo para lançar como Crystal Machine algum dia?

TIM - Eu não tive um bom relacionamento com a indústria da música e alguns dos meus discos mais vendidos nunca me renderam um cheque com roalties.
Então, eu prefiro trabalhar como uma indústria de um homem só!

CRYSTAL MACHINE pode ser encontrado em CD - http://moonweed.free.fr/Cds/c-machine.html
e também MAGICK - http://moonweed.free.fr/Cds/Magick.html


Não há "mercado" nos dias de hoje para os meus álbuns em formato físico que faça valer a pena para mim produzi-los. Mas apesar de representar uma pequena das vendas apenas, fazendo downloads por conta própria eu consigo manter as perdas baixas!
Você pode obter minha música do meu próprio site:


http://moonweed.free.fr/store.hmt

Também estou expermentando uma página no Bandcamp:

http://timblake.bandcamp.com

Isto foi feito basicamente para permitir que as pessoas a escolher seu formato, mas parece um pouco com uma jukebox online para mim, com 99% de plays, e 1% de vendas, então eu não sei se vou continuar com ele.

ASTRONAUTA - Bem, obrigado, meu amigo. Espero que você venha ao Brasil em breve!!! Tudo de bom para você, Tim!


Dave Brock e Tim Blake (Londres, 2010)
Tim Blake com o GONG, 1974
(Minimoog e EMS Synthi A) 
Hawkwind - Masters of Universe tour (inverno de 1979)
Crystal Machine World Tour 1979
Jean-Philippe Rykiel e Tim Blake no
'The Space' Hanne Mori - Tokyo, Japan
foto: Patrice Werrener



TIM BLAKE

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Hawkwind Official Site:

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