Richard Teitelbaum nasceu no dia 19 de maio de 1939, na cidade de New York, USA. Seu pai, um advogado por profissão e pianista amador, foi responsável pelas primeiras lições de piano que Richard teve, antes de estudar com o professor Mark Goldin, pianista europeu que residia em NY na época. No final dos anos 50, Richard Teitelbaum passou a interessar-se pela música eletrônica, depois de assistir à uma palestra do compositor alemão Karlheinz Stockhausen. Na sequência, teve acesso às obras do compositor John Cage, que tornou-se outra grande influência artística para Richard.
Concluiu seu mestrado em teoria musical e composição na Yale University em 1964 e, em seguida, partiu para a Itália, em um intercâmbio. Lá, conheceu os compositores Goffredo Petrasi e Luigi Nono, com quem Richard passou a trabalhar por algum tempo. Também na metade dos anos 60 participou da formação do conjunto de música eletrônica Musica Elettronica Viva (MEV), na cidade de Roma. Em 1967, interessado na utilização de ondas cerebrais como controladores de sons, ele ficou sabendo que o engenheiro eletrônico americano Robert Moog havia inventado e desenvolvido o sintetizador Moog, há alguns anos, e estava colocando-o no mercado. Richard contatou Bob Moog e logo tornou-se a primeira pessoa a levar um sintetizador Moog para a Europa, em 1967.
Em 1970, retornou aos USA, onde continuou suas experiências com música eletrônica ao vivo, misturada com instrumentos acústicos. Uma colaboração com o saxofonista de jazz Anthony Braxton começou em 1976 e, no ano seguinte, Richard Teitelbaum partiu para um período de um ano na cidade de Tokyo, onde estudou o shakuhachi (uma flauta tradicional japonesa, feita de bambu) com o músico e professor Katsuya Yokoyama, que viria a gravar com Teitelbaum alguns anos depois. Richard Teitelbaum leciona no Bard College, em New York, há mais de 20 anos.
Meu primeiro contato direto com Richard Teitelbaum para esta entrevista foi feito há alguns meses, via email. Uma pessoa muito gentil e prestativa, o Sr. Teitelbaum encontrou tempo na sua agenda atribulada e me deu a honra e o prazer de entrevistá-lo para meu blog. Agradeço-o imensamente. Então, aqui está a entrevista com Richard Teitelbaum, pioneiro da música eletrônica!
ASTRONAUTA - Richard, como a música surgiu na sua vida e quais foram seus primeiros passos no mundo musical?
RICHARD - Meu pai, advogado por profissão, era um excelente pianista amador. Então, eu ouvia-o tocar com frequência, desde que eu era criança. Eu comecei a estudar com ele, quando eu tinha uns seis anos, e depois passei a ter aulas com um ótimo professor de piano europeu chamado Mark Godin, que residia em New York. Também passei a frequentar concertos no Carnegie Hall e em outros locais, quando eu ainda era muito jovem, e toquei em recitais que o Mark realizava com seus alunos todos os anos - peças de Mozart, Mendelsohn, Brahms e outros, que tivessem trechos para piano, em alguns concertos nos quais tocavamos juntos, utilizando dois pianos.
ASTRONAUTA - Como e quando você passou a se interessar pela música eletrônica e pelos sintetizadores?
ASTRONAUTA - Como e quando você passou a se interessar pela música eletrônica e pelos sintetizadores?
RICHARD - Eu fui à uma palestra feita pelo Stockhausen, quando estava numa faculdade próxima à Philadelphia, por volta de 1958. Ele apresentou algumas das suas primeiras peças eletrônicas, daquele período, e eu fiquei fascinado por aquela música. Na pós-graduação, em Yale, eu o convidei para palestrar la, também. Convidei também o John Cage e o Mauricio Kagel, para palestrarem. Cage era particularmente estimulante e polêmico. Ele fez suas palestras simultâneas "Where are we going, What are we doing" - que foram publicadas no livro 'Silence' - com três gravadores de fita e sua própria voz amplificada. Eu não tinha certeza do que fazer com aquilo, mas eu sabia que alguma coisa havia mudado na minha consciência, de forma misteriosa.
ASTRONAUTA - Nos anos 60, você trabalhou e estudou com Luigi Nono, na Itália. E você também foi responsável por levar o prineiro sintetizador Moog para a Europa, quando participou na formação do grupo de música eletrônica MEV (Música Elettronica Viva). Quais são suas lembranças deste período?
RICHARD - Eu fui para a Itália em um intercâmbio em 1964 e, no primeiro ano, estudei em Roma com o Goffreddo Petrasi. Então eu renovei o contrato para o intercâmbio e mudei para Veneza, para trabalhar com Nono, que eu havia conhecido e cuja música eu achava muito mais interessante. Eu escrevi uma peça pós-serial, para orquestra de câmara, que eu acabei nunca executando (eu ainda tenho a partitura, escrita a lápis), que refletia as mudanças pelas quais a minha música estava passando, naquele momento. Ela começa de forma muito rígida e gradualmente introduz partes de improviso livre. Eu havia lido o então recém publicado livro de Cage - 'Silence' - na época, e andava com o pessoal do The Living Theatre e com músicos de jazz, como Steve Lace e Ornette Coleman. E era o começo do grupo Musica Elettronica Viva. Finalmente, Nono e eu tivemos uma discussão amigável sobre como obter mais resultados do que uma experiência imediata dos meus esforços musicais, e então eu voltei para Roma e me juntei ao MEV, como compositor e músico. Nós fizemos algumas centenas de concertos nos anos seguintes.
ASTRONAUTA - Nos anos 60, você trabalhou e estudou com Luigi Nono, na Itália. E você também foi responsável por levar o prineiro sintetizador Moog para a Europa, quando participou na formação do grupo de música eletrônica MEV (Música Elettronica Viva). Quais são suas lembranças deste período?
RICHARD - Eu fui para a Itália em um intercâmbio em 1964 e, no primeiro ano, estudei em Roma com o Goffreddo Petrasi. Então eu renovei o contrato para o intercâmbio e mudei para Veneza, para trabalhar com Nono, que eu havia conhecido e cuja música eu achava muito mais interessante. Eu escrevi uma peça pós-serial, para orquestra de câmara, que eu acabei nunca executando (eu ainda tenho a partitura, escrita a lápis), que refletia as mudanças pelas quais a minha música estava passando, naquele momento. Ela começa de forma muito rígida e gradualmente introduz partes de improviso livre. Eu havia lido o então recém publicado livro de Cage - 'Silence' - na época, e andava com o pessoal do The Living Theatre e com músicos de jazz, como Steve Lace e Ornette Coleman. E era o começo do grupo Musica Elettronica Viva. Finalmente, Nono e eu tivemos uma discussão amigável sobre como obter mais resultados do que uma experiência imediata dos meus esforços musicais, e então eu voltei para Roma e me juntei ao MEV, como compositor e músico. Nós fizemos algumas centenas de concertos nos anos seguintes.
ASTRONAUTA - Como você conheceu o Robert Moog e quais são suas lembranças dele?
RICHARD - Uma noite, em Roma, eu tive uma espécie de visão sobre como fazer música utilizando as ondas cerebrais, de alguma maneira. Frederic Rzewski me falou sobre um homem chamado Robert Moog, que havia criado um novo sintetizador, no interior de New York. Eu comecei a pesquisar sobre as ondas cerebrais e escrevi para o Robert Moog, perguntando se o seu sintetizador poderia ser utilizado para transformar as ondas cerebrais em sons, de alguma maneira, e ele rapidamente me respondeu, dizendo que sim, era possível, amplificando e usando as ondas cerebrais como sinal controlador do sintetizador. Eu retornei à New York e encontrei Lloyd Gilden, um psicólogo do Queens College, que estava justamente fazendo um trabalho similar, com ondas cerebrais e biofeedback. Ele me contratou para trabalhar tanto como seu técnico de laboratório quanto como objeto para suas pesquisas, e eu trabalhei lá por quase um ano, juntando dinheiro para comprar um sintetizador Moog usado, no outono seguinte. Com a ajuda de um velho amigo, o compositor David Behrman, eu também aprendi a construir circuitos simples de voltagem controlada, tipo Voltage Controlled Amplifiers, etc. Robert Moog construiu para mim um amplificador diferente, de alto ganho, para elevar o nível das ondas cerebrais para os níveis necessários para poderem ser sinais controladores, e eu retornei a Europa com este equipamento e o sintetizador Moog, para juntar-me novamente ao MEV, no outono de 1967.
Minhas lembranças sobre Bob Moog são todas positivas. Ele era um homem muito amigável e caloroso - totalmente sem pretenção alguma e muito prestativo. É uma grande perda que ele não esteja mais aqui.
RICHARD - Uma noite, em Roma, eu tive uma espécie de visão sobre como fazer música utilizando as ondas cerebrais, de alguma maneira. Frederic Rzewski me falou sobre um homem chamado Robert Moog, que havia criado um novo sintetizador, no interior de New York. Eu comecei a pesquisar sobre as ondas cerebrais e escrevi para o Robert Moog, perguntando se o seu sintetizador poderia ser utilizado para transformar as ondas cerebrais em sons, de alguma maneira, e ele rapidamente me respondeu, dizendo que sim, era possível, amplificando e usando as ondas cerebrais como sinal controlador do sintetizador. Eu retornei à New York e encontrei Lloyd Gilden, um psicólogo do Queens College, que estava justamente fazendo um trabalho similar, com ondas cerebrais e biofeedback. Ele me contratou para trabalhar tanto como seu técnico de laboratório quanto como objeto para suas pesquisas, e eu trabalhei lá por quase um ano, juntando dinheiro para comprar um sintetizador Moog usado, no outono seguinte. Com a ajuda de um velho amigo, o compositor David Behrman, eu também aprendi a construir circuitos simples de voltagem controlada, tipo Voltage Controlled Amplifiers, etc. Robert Moog construiu para mim um amplificador diferente, de alto ganho, para elevar o nível das ondas cerebrais para os níveis necessários para poderem ser sinais controladores, e eu retornei a Europa com este equipamento e o sintetizador Moog, para juntar-me novamente ao MEV, no outono de 1967.
Minhas lembranças sobre Bob Moog são todas positivas. Ele era um homem muito amigável e caloroso - totalmente sem pretenção alguma e muito prestativo. É uma grande perda que ele não esteja mais aqui.
ASTRONAUTA - Alguns dos seus primeiros trabalhos incluem técnicas de biofeedback, ondas cerebrais, batidas cardíacas e outros sinais gerados pelo corpo humano. Quais eram estas técnicas e quais eram os processos que você utilizava para cria-las?
RICHARD - A primeira peça que eu fiz utilizando estas técnicas se chama 'In Tune' (de 1967). Ela estreou na American Academy, em Roma, e também na American Church. Na igreja, eu tinha um "objeto" no palco, cujos batimentos cardíacos, respiração e ondas cerebrais eram amplificados. Eu controlava os níveis e orquestrava os sons do Moog utilizando as ondas cerebrais como sinais controladores. Elas forneciam os impulsos rítmicos, gerando batidas intermitentes, cerca de dez vezes por segundo, que gradualmente aumentavam em consistência e continuidade, quando o feedback afetava positivamente o "objeto", que estava também controlando, ao abrir e fechar os olhos e alterando seus estados internos de atenção. Na American Academy, eu tinha duas pessoas que executavam as tarefas de maneira parecida. Eu também utilizei estes sinais em improvisações coletivas que o MEV realizava e, gradualmente, adicionei mais elementos. Em Toronto, alguns anos mais tarde, eu adicionei síntese de vídeo controlada por ondas cerebrais, que modulavam as imagens de um praticante de Tai Chi, em tempo real, acompanhado pelo músico Sul-Indiano Trichy Sankaran tocando Mridangam. Para estas apresentações eram utilizadas as ondas cerebrais da performer Barbara Mayfield. Em algumas ocasiões, nós também usávamos membros do MEV, com batimentos cardíacos, respirações e sinais cerebrais de pessoas diferentes, explorando a comunicação não-verbal através destes canais.
ASTRONAUTA - Você ainda tem alguns dos sintetizadores analógicos que você utilizava nos anos 60 e 70?
RICHARD - Sim, eu ainda tenho meu Moog original, bem como vários módulos adicionais da Moog, que eu fui adquirindo no decorrer dos anos. Também tenho alguns Micro Moogs (pelo menos um deles modificado, com um sintetizador adicional, etc.). Eu sampleei os sons do sintetizador Moog grande e uso os samples no Ableton Live, evitando ter que carregar o aparato todo por ai, nos dias de hoje.
ASTRONAUTA - Quais são seus planos para o futuro, novas gravações, próximos concertos? Alguma possibilidade de vir ao Brasil? (Ah, por sinal, você já esteve no Brasil alguma vez?)
RICHARD - Nos últimos dois anos, eu lancei a gravação de um recente concerto solo, registrado ao vivo no espaço An Die Musik, em Baltimore, através do selo Mutable (disponível para download na internet), e também foi lançado um CD chamado Piano Plus, com música para piano solo executada por Frederic Rzewski ao piano; Ursula Oppens ao piano, computador e Disklavier interativo; e sampler/sintetizador executados por Aki Takahashi e por eu mesmo. Também, três peças, para três piano players computadorizados executados por mim, lançados pelo selo New World Records. Novos CDs devem surgir, no futuro.
E sim, eu estive no Rio por alguns dias, quando voltava de um concerto com meu amigo Carlos Zingano em Buenos Aires, há alguns anos. Mas eu nunca me apresentei no Brasil. Tive bons momentos, indo à escolas de samba e à uma cerimônia de candomblé. Seria encantador voltar ao país e realizar algum concerto ou opera aí.
Website do Richard Teitelbaum: http://inside.bard.edu/teitelbaum/
E sim, eu estive no Rio por alguns dias, quando voltava de um concerto com meu amigo Carlos Zingano em Buenos Aires, há alguns anos. Mas eu nunca me apresentei no Brasil. Tive bons momentos, indo à escolas de samba e à uma cerimônia de candomblé. Seria encantador voltar ao país e realizar algum concerto ou opera aí.
Website do Richard Teitelbaum: http://inside.bard.edu/teitelbaum/
No comments:
Post a Comment