Monday, June 30, 2014

Entrevista com David Van Koevering


David Van Koevering nasceu na cidade de Grand Rapids (Michigan), no dia 8 de Abril de 1940. Filho de um músico profissional, David aprendeu a tocar uma longa lista de instrumentos musicais logo cedo, na sua infância. Sua maneira entusiasmada de comunicar-se com as pessoas, aliada ao seu conhecimento e interesse profundos sobre música e instrumentos musicais o levaram a tornar-se um educador musical muito popular nos anos 60. Durante uma palestra em um programa educacional na cidade de New York, no final dos anos 60, David Van Koevering teve a oportunidade de visitar os estúdios da R. A. Moog em Trumansburg (NY) e, logo em seguida, conheceu o Robert Moog, que havia inventado o Sintetizador Moog alguns anos antes e estava começando sua trajetória para colocar o sintetizador que carregava seu sobrenome como o instrumento musical eletrônico mais famoso de todos os tempos. E, de alguma forma, David ajudou isso a acontecer, quando decidiu que apresentaria o futuro da música para as novas gerações e tornou-se um dos mais importantes demonstradores e vendedores dos Sintetizadores Moog daquele período. No início dos anos 70, David Van Koevering viajou através dos Estados Unidos da América, demonstrando e vendendo o recém inventando Mini Moog.

A empresa R. A. Moog foi vendida para Bill Waytena no início da década de 70, e foi renomeada como Moog Music. David Van Koevering tornou-se o Vice Presidente da companhia. Algum tempo depois, Waytena vendeu a Moog Music para a Norlin e David pediu demissão. Na primeira metade dos anos 70, ele fundou a Vako Synthesizers e, depois de comprar os direitos do Optigan (que era fabricado pela empresa de brinquedos Mattel), desenvolveu o Orchestron, instrumento capaz de reproduzir sons de  cordas, corais, orgão, flauta e outros instrumentos de uma orquestra. O Orchestron tornou-se bastante famoso na segunda metade da década, pelas mãos de músicos como Patrick Moraz (Yes), Tony Carey (Rainbow) e pelos membros do Kraftwerk (os corais e cordas que ouvimos nos álbuns Radio-Activity e Trans-Europe Express foram todos executados em um Vako Orchestron que a banda adquiriu na tour americana de 1975.) Nos anos 90, Van Koevering criou outro instrumento inovador, o VanKoevering Interactive Piano, e uma nova associação com o amigo de longa data Robert Moog aconteceu, com Bob cuidando do design das partes analógicas do VanKoevering Interactive Piano. Pastor desde os anos 60 David Van Koevering é o presidente e fundador da Elsewhen Research, organização sem fins lucrativos dedicada à explicação científica do que está escrito na Bíblia. Como musicólogos, David e sua esposa Becky apresentam performances e palestras públicas, nas quais eles explicam a Ciência dos Sons, História da Música e demonstram sua coleção que conta com mais de 250 instrumentos musicais raros e incomuns.

Meu contato com David Van Koevering foi via email. Eu sou muito grato pelo fato dele ter encontrado algum tempo para responder à esta entrevista. Como um fato curioso, David me contou no primeiro contato para a entrevista que ele já esteve no Brasil, quando veio como missionário em 1960, aos 19 anos de idade. Brasilia, a capital do país, recém estava sendo construída na época!

Bom, muito obrigado pela entrevista, David Van Koevering!

www.davidvankoevering.com

ASTRONAUTA - David, quais são suas lembranças da sua infância e de como a música entrou na sua vida?

DAVID - Quando eu era criança, aos 12 anos de idade, eu já tocava 27 instrumentos musicais. Meu pai era músico profissional e me ensinou música desde muito cedo. Eu tinha um talento natural, era o que pode ser chamado de criança prodígio. Aos 12 anos de idade eu me inscrevi numa competição (musical) nacional, nos Estados Unidos, e fiquei em segundo lugar.

ASTRONAUTA - Como você conheceu o Robert Moog?

No palco: David Van Koevering (segundo à esquerda)
e Robert Moog (sentado, ao centro).
DAVID - Eu estava viajando e me apresentando em programas de educação musical, em escolas públicas. Existe uma foto de uma destas apresentações educacionais no livro "Analog Days", do Tevor Pinch. Eu ví um anúncio no Music Educators Journal, com uma foto do R. A. Moog Studio em Trumansburg (NY), que dizia "Venha visitar nossa sala". Eu estava me apresentando na região e decidi fazer uma visita. Bob Moog estava na Europa na ocasião, então eu não o encontrei naquela vez. Um tempo depois, eu estava me apresentando em uma escola em Long Island (NY) e o diretor me disse "Eu quero que você conheça o Bob Moog". Ele havia viajado de Trumansburg (NY) para me encontrar e assistir minha apresentação. Bob e eu conversamos sobre a última canção que eu havia tocado, na qual eu utilizava um Theremin. Eu tinha construido o Theremin seguindo um artigo que Bob havia publicado em uma revista eletrônica. Depois de ter conhecido o Bob naquele dia, ele me perguntou se eu gostaria de juntar-me e ele e à sua família, para irmos ao Carnegie Hall, em New York. Era a primeira apresentação ao vivo do "Moog Quartet", com Gershon Kingsley. Durante aquele concerto algo mudou dentro de mim, na minha alma. Eu soube que queria estar envolvido com aquilo! Eu tinha um grande público e apresentar o futuro da música para as novas gerações passou a ser o meu objetivo.

ASTRONAUTA - De acordo com Robert Moog, antes de se juntar à Moog Music você já era um palestrante bastante conhecido e um gênio na arte de cativar as pessoas. É também fato conhecido que você foi um dos responsáveis pela popularização do Mini Moog, nos seus primeiros anos de existência.  Quais são suas memórias a respeito disto?

DAVID - Eu acredito que tenha sido por conta do fato de que, antes de eu conhecer o Bob, eu era pastor. E eu senti pelo que eu via como o futuro da música o mesmo entusiasmo que eu sentia nos meus sermões. Eu fui a primeira pessoa e levar o Mini Moog até os artistas de palco. Juntamente com um sócio chamado Les Truby, eu fundei a "Vako Synthesizers" (sendo a palavra Vako formada pelas sílabas iniciais do meu sobrenome, VanKoevering). Nós fomos os primeiros a encomendar 25 Mini Moogs. Assim que os pedidos eram entregues pela R. A. Moog, eu levava os Mini Moogs para alguns músicos tocarem com eles. Eu também abri o primeiro night club com um Mini Moog, e tocava ao vivo com ele, no palco. Nós chamamos o club de "Island Of Electronicus". Era um tremendo sucesso entre a nova geração. Nós tínhamos grandes almofadas no chão, e tocávamos todos os sucessos daquela época, de Beatles a Switched On Bach. O público era convidado a se apresentar também. Depois das primeiras vendas no estado da Florida, eu decidi que eu precisava levar o Mini Moog por todo o território nacional (nos Estados Unidos). Nós fechamos o "Island Of Electronicus" e eu saí pela estrada, vendendo para as lojas de rock & roll nos Estados Unidos. Uma das memórias que eu tenho daqueles dias remotos é de um verão, durante as férias escolares das crianças, atravessei os Estados Unidos de carro, com minha esposa Becky, nossa filha Debbie, nosso filho Jon e nossa cachorrinha poodle FiFi, procurando por lojas e revendedores.

ASTRONAUTA - Na metade dos anos 70 você projetou e desenvolveu o Vako Orchestron, que acabou se tornando um instrumento bastante conhecido pelas mãos dos membros do Kraftwerk e de Patrick Moraz (Yes). Como você teve a idéia de fazer o Vako Orchestron? Você ainda tem um Vako Orchestron?

DAVID - Depois que Bill Waytena comprou a R. A. Moog e mudou a companhia para Moog Music, eu fui contratado como Vice Presidente e introduzi o Mini Moog em 28 países. Depois que Bill Waytena vendeu a empresa para a Norlin e eu descobri que o estoque que havia sido prometido para mim tinha ido junto na venda, eu deixei a empresa e me mudei de volta para a Florida. Eu percebi que havia a necessidade de um instrumento polifônico, que pudesse tocar acordes e também fosse capaz de reproduzir sons de violinos de verdade, vozes humanas, orgão e também outros instrumentos de uma orquestra. Eu contatei a empresa Mattel, que construia uma espécie de instrumento de brinquedo para uso doméstico, que podia reproduzir estes sons. Então eu fui lá e desenvolvi o "Vako Orchestron", para os músicos utilizarem ao vivo. O Orchestron registrava o som em óxido de prata, em uma peça de filme negativo. A luz passava pelo filme por arsenieto de germanium, através de foto-células. O instrumento se popularizou bastante e logo passou a substituir o Mellotron, que era construído na Inglaterra e era muito grande, pesado e difícil de ser transportado. O Orchestron ficou bastante famoso através de bandas como o Kraftwerk, o Patrick Moraz (do Yes), o Tangerine Dream e tantos outros. O Orchestron foi o primeiro instrumento que levou ao desenvolvimento do que hoje nós conhecemos como CD (Compact Disc). O Orchestron existe em forma de sofware hoje em dia. E sim, eu ainda tenho um Orchestron.

ASTRONAUTA - E o VanKoevering Interactive Piano, como surgiu?

DAVID - No início dos anos 90 eu tive uma visão, de um instrumento que pudesse reproduzir 128 sons, tivesse um estúdio de gravação embutido, pudesse escrever notas e notação musical enquanto fosse executado e tivesse uma impressora acoplada, para imprimir as partituras e também pudesse gravar isto em CD. Nunca ficaria obsoleto porque não teria botões. Você interagiria através do seu software, chips e uma tela sensível ao toque, que poderiam automaticamente ser atualizados pela internet, confome os softwares fossem avançando. Chamei de VanKoevering Interactive Piano. Tinha softwares que ensinavam você a tocar o piano, através de lições e jogos interativos. Foi um projeto de 5 anos e 40 milhões de dólares. Nós vendemos 4.700 deste lindo instrumento em forma de piano, através de 125 revendedores por todos os Estados Unidos. Tínhamos 136 empregados, em 5 escritórios nos Estados Unidos. Bill Gates fez um pronunciamento dizendo que o VanKoevering Interactive Piano era a melhor aplicação do Windows 2000 que havia. Bob Moog se tornou o designer da parte analógica da nossa companhia. Tudo acabou quando as Torres Gêmeas foram derrubadas, no dia 9 de Setembro. Nossos maiores investidores perderam milhões e não puderam mais subsidiar-nos na venda do estoque.

www.davidvankoevering.com
ASTRONAUTA - Como você vê as diferenças entre o mercado de instrumentos musicais nos anos 60 e 70, comparando com hoje em dia? Quais foram as maiores mudanças (para melhor e para pior) na sua opinião?

DAVID - Como musicólogo eu tenho visto que, conforme as novas tecnologias vão surgindo, o homem dá um jeito de incorpora-las nos instrumentos musicais. A tecnologia de controle de vapor trouxe o calliope, as válvulas trouxeram o Orgão Hammond, Bob Moog utilizou transistores e placas de circuito impresso. A leitura de filmes através da luz trouxe o Orchestron. A era dos computadores viabilizou a construção do VanKoevering Interactive Piano e tantos outros instrumentos. Através dos séculos, os músicos descobriram como fazer música com a tecnologia que estava à disposição deles.

ASTRONAUTA - Quais são seus projetos mais recentes? E planos para o futuro?

DAVID - Meus projetos mais recentes são relacionados com a cura do corpo através do som, da luz e das frequências. Nos anos 30 e 40, o inventor Royal Rife desenvolveu uma máquina que emitia frequências de rádio que, quando conectadas ao seu microscópio de eletrons, enviava uma frequência de rádio para o corpo. Isto demonstrou ter ajudado na cura de mais de mil tumores, confirmados por laudos médicos e testemunhos de pacientes. Meu VanKoevering Interactive Piano, que pode reproduzir as frequências de um piano Steinway e outros 127 instrumentos, certamente pode reproduzir as frequências que Rife utilizou para ajudar na cura do câncer. É um uso e uma aplicação da tecnologia maiores do que construir o instrumento musical digital mais sofisticado de todos. Meu trabalho com lasers e plasmas conectará estas frequências, que podem curar muitas doenças. Espere e veja o que acontecerá num futuro próximo, daqui 12 ou 18 meses a partir de agora, com telefones celulares e iPads. É uma viagem muito excitante. Uma visão do passado e também uma olhada no futuro. Eu gostaria que você estivesse lá. Alguns dos nossos leitores estiveram.

David VanKoevering - Visionário.
David Van Koevering, Herb Deutsch e Robert Moog na NAMM 2000.

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