Foto: Mike Greenberg, 2001. |
In the early 1960, as a high school student, Philip began to produce a series of concerts at McNay Art Institute, in San Antonio, TX, and that included pieces from American composers John Cage, Richard Maxfield, La Monte Young, Terry Riley, and some of his own works. Right after that, Mr. Krumm moved to Ann Arbor, MI, to study at University of Michigan. In Ann Arbor, he joined Robert Ashley, Gordon Mumma and other composers from the ONCE Festival/ONCE Group, one of the most important groups to the avant garde scene in the USA!
In the second half of the 60s, he started a light-show company in Texas, and also managed two rock bands, "Rachel's Children" and "The Children". He also was a close friends with some of the most important rock musicians in the world, Roky Erickson, Stacy Sutherland, and Tommy Hall from The 13th Floor Elevators!
Since 1982 Philip Krumm has run Clipper Ship Book Store, in San Antonio, TX. As you will check out during this interview, some of Mr. Krumm's early electronic works are being prepared to be released in LP, via Idea Records, the same label that released his piece "Formations" in 2003, in CD format.
My first contact with Mr. Krumm was via his official Facebook page, some months ago, when I invited him to this interview, which he kindly accepted! So, here's the interview!
Foto: H. Ramsey Fowler, 1962. |
PHILIP KRUMM - Eu nasci prematuramente, dois meses antes do esperado e, por conta disso, sofri com uma série de doenças infantis, algumas que se arrastaram por bastante tempo, o que me afastou dos esportes e me levou à música e à literatura, desde muito cedo. Meus pais compraravam para mim alguns discos infantis muito populares naquel época, como "Rusty in Orchestraville", que apresentava os instrumentos de uma orquestra para as crianças, ou "A Trip Through Melodyland", que utilizava muitos clássicos populares como 'The Swan' ou 'In The Hall Of The Mountain King'. Também, ao mesmo tempo, eles me deram meu primeiro disco contendo um trabalho sinfônico: The Firebird Suite, com Artur Rodzynsky e a Orquestra da CBS, pelo que me lembro. Quatro lados, em discos de 12 polegadas e 78 rotações. Eu adorava aquilo acima de tudo, e logo (aos cinco anos de idade, mais ou menos) eu estava dentro da música clássica, do jazz e da música popular, já que tudo estava a minha disposição, fosse em discos ou através do rádio. E o rádio tenha um papel importante, já que era o grande lance quando eu era criança e também nos anos seguintes, e muitos concertos sinfônicos eram emitidos, assim como a Metropolitan Opera, que tinha a mesma idade que eu. Agradeço muito aos grandes pais que tive, pela boa música que me apresentaram desde muito cedo, e também por me darem acesso à leitura de jornais desde os 4 anos, mais ou menos. E também a literatura de qualidade estava ao meu alcance, já que meus pais eram ávidos leitores de grandes livros. Meu primeiro instrumento foi o piano, e eu ainda estou tentando dominar o instrumento.
Algo que merece ser mencionado é sobre o disco "Rusty in Orchestraville": o enredo é que Rusty encontra e tem a oportunidade de conversar com vários instrumentos de uma orquestra. O que eu não sabia na época, mas fiquei emocionado ao descobrir mais tarde, é que a "fala" dos instrumentos foi possível graças à uma das primeiras utilizações de um Ring Modulator. Meu primeiro contato com um Ring Modulator foi somente muitos anos depois, no Ann Arbor Cooperative Center for Electronic Music, que Gordon Mumma e Robert Ashley criaram com muito trabalho. Ele permite que você passe dois diferentes sinais sonoros, que são divididos no aparelho, e chamados de "soma e diferença das frequências", e são recombinados alternadamente. Então, um narrador pode falar em um microfone, e um trumpetista pode tocar sons imitando a fala, e o Ring Modulator vai gerar um "tumpete falante". Eu acho que não existia muito mais o que fazer com Ring Modulators nos anos 40.
Mais tarde, mais ou menos quando eu estava no segundo grau, me tornei assistente de bibliotecário na San Antonio Symphony. Isto foi entre 1958 e 1960, mais ou menos. Eu montava as estantes de partitura para os ensaios, de vez em quando, e tinha a oportunidade de escutar grandes peças divididas em seções: A Quinta Sinfonía de Prokofiev, por exemplo, somente com sopros, metais e percussão, e na semana seguinte somente com cordas, e alguns dias depois com todos os instrumentos, e mais adiante o concerto completo. Você pode aprender muito sobre grandes músicas desta maneira. Também trabalhei na SA Opera, e tive a oportunidade de conhecer muitas das estrelas da época, sendo que George London foi o mais importante para mim. Ele autografou alguns LPs dos ciclos de canções do Mussorgsky, que ele havia recém lançado. Eu pude assisti-lo interpretando "Boris Gudonov" e "As Bodas de Figaro". Com tudo isso, foi um período muito benéfico na minha vida, musicalmente. Eu escutei vários dos grandes clássicos sendo executados ao vivo, naqueles dois ou três anos, e aquilo teve um impacto muito profundo nas minhas experiências musicais. Eu fui um adolescente de muita sorte.
ASTRONAUTA - E como foi seu primeiro contato com a música de vanguarda e com a música eletrônica?
PHILIP KRUMM - Na verdade, foi tudo mais ou menos na mesma época. Por volta dos 16 anos de idade, eu havia migrado, musicalmente falando, dos pós-românticos para os modernos, e estava profundamente dentro da obra de Schoenberg, adorava as peças atonais e o serialismo. Me parecia que a atonalidade era a evolução natural do extremo cromatismo do final do século XIX e do comecinho do século XX. Era muito natural para mim. E, por volta de 1960, quando Cage eletrificou muitos de nós com seu incrível LP pela Folkways Records, "Indeterminacy: New Aspect of Form in Instrumental and Electronic Music", as coisas fizeram todo o sentido. Nós podíamos ver o futuro se transformando na frente dos nossos olhos, e a criatividade atingiu níveis altíssimos. Como Morton Feldman disse, "Agora que tudo é tão fácil, temos muito trabalho a ser feito."
E seria injusto passar batido pela influência de um dos LPs que eu tive acesso na Louisville Orchestra em 1958, que me apresentou a brilhante "Variations for Orchestra", de Elliott Carter. Para mim, na época, este foi certamente um dos mais importantes trabalhos do século XX, e quando fui estudar em Michigan, eu levei as gravações e partituras desta peça comigo. Ross Lee Finney sabia que era importante e eu, juntamente com meu colegas, que incluíam Roger Reynolds e Bob James, passamos um bom tempo analisando a peça nos seminários de graduação. Nós estudamos todos os quartetos de cordas de Beethoven, algumas pecas de Luigi Dallapiccola e, o melhor de tudo, as Variações para Piano, de Webern.
ASTRONAUTA - No final dos anos 50 e início dos 60, você organizou alguns concertos no McNay Art Institute. Quais foram as melhores (e piores) partes em organizar concertos de vanguarda naquela época? Existem gravações ou filmagens de alguns destes concertos?
E seria injusto passar batido pela influência de um dos LPs que eu tive acesso na Louisville Orchestra em 1958, que me apresentou a brilhante "Variations for Orchestra", de Elliott Carter. Para mim, na época, este foi certamente um dos mais importantes trabalhos do século XX, e quando fui estudar em Michigan, eu levei as gravações e partituras desta peça comigo. Ross Lee Finney sabia que era importante e eu, juntamente com meu colegas, que incluíam Roger Reynolds e Bob James, passamos um bom tempo analisando a peça nos seminários de graduação. Nós estudamos todos os quartetos de cordas de Beethoven, algumas pecas de Luigi Dallapiccola e, o melhor de tudo, as Variações para Piano, de Webern.
ASTRONAUTA - No final dos anos 50 e início dos 60, você organizou alguns concertos no McNay Art Institute. Quais foram as melhores (e piores) partes em organizar concertos de vanguarda naquela época? Existem gravações ou filmagens de alguns destes concertos?
PHILIP KRUMM - Eu olho para trás e vejo aqueles concertos com admiração. Incrível como conseguiamos colocar juntos tantos músicos maravilhosos, todos por volta de vinte anos de idade. Não tenho nenhuma memória específica de algum problema nos concertos. Havia um cara mais velho, chamado Bill Case, que tinha uma loja que vendia toca-discos e aparelhos stereo de alta qualidade. Ele providenciou e operou os gravadores de rolo com as fitas de Richard Maxfield, um dos melhores gravadores da época, embora eu não lembre o nome do fabricante agora. Lembro de Bill Case mencionando que ele havia adocionado "um canal central, a la Klipsch". Maxfield pediu para que retornassemos as fitas, naturalmente, já que não haviam gravações lançadas oficialmente das suas pecas na época. De qualquer forma, o som ficou formidável com as caixas de som do Bill. Foi um grande concerto.
Em outra ocasião que marcou foi quando Robert Sheff executou as Sonatas e Interlúdios para Piano Preparado, de John Cage. Ele era um virtuoso, já naquela época, e tocou aquelas peças maravilhosamente bem. Ele também, eu acredito, estava estreiando uma das pecas de Cage, mas não sabíamos disso na época. E também foi uma honra termos Philip Corner aqui no Fort Sam Houston. Ele trouxe tantas coisas para nós, coisas que não conhecíamos antes, assim como sua esposa Styra, uma violoncelista. Eles eram muito gente boa, e nos ensinaram muito. Nós também realizamos outros concertos no McNay, inclusive uma performance de "Envelope", do Terry Riley.
ASTRONAUTA - No início dos anos 60 você mudou para Ann Arbor, e juntou-se ao pessoal do ONCE Festival/ONCE Group (o ONCE foi um dos grandes divisores de águas na história da música de vanguarda Norte-Americana, lançando as sementes para toda uma nova geração de compositores na época.) Qual foi o seu primeiro contato com os artistas baseados em Ann Arbor? E como vocie relaciona a cena baseada em Ann Arbor com os concertos que você realizava no McNay Art Institute?
PHILIP KRUMM - Eu havia feito músicas para algumas produções no Fort Sam Houston Little Theatre, em 1960 ("Taming of the Shrew", "Dracula") e o diretor era um homem chamado Bill Larson. Eu me dava bem com ele (já que não era ator), mas os atores tinham uma visão muito, muito diferente dele. Enfim, ele era um dos grandes nomes no departamento de música na University of Michigan, e tinha feito cursos com Ross Lee Finney, e sugeriu que eu enviasse algumas músicas para ele. E eu fiz isso, e o Ross Finney respondeu muito positivamente ("Eu não sei o que iremos fazer com você, mas o queremos aqui!") Meus pais pediram emprestado $300 a um tio rico (que pediu para que eles pagassem em prestações) e logo eu estava em um trem para Michigan. Eu cheguei lá com $39 nos meus bolsos. O coordenador da escola de música interessou-se pelo meu caso, e eles me enviaram para morar na Nakamura Co-op, um velho prédio de dois andares que servia como moradia conjunta para estudantes de baixa renda. Era um lugar legal, com várias pessoas espertas e várias idéias politicas que me interessaram.
O Finney me disse para procurar pelo Robert Ashley e pelo Gordon Mumma, o que eu fiz. Eles tinham opiniões diferentes a respeito de Finney, que era um tanto quanto conservador, na visão deles (mesmo Finney sendo uma espécie de serialista). Gordon o chamava de "Horse Pee Funny". Ashley era mais discreto. De qualquer forma, quando eles viram o que eu havia realizado com os concertos no McNay, eu fui muito bem recebido na turma, e comecei a fazer música no novíssimo Cooperative Center for Electronic Music. E também pude me apresentar nos ONCE Festivals de 1962 e 63. No último Festival, eu me apresentei sob direção de John Cage, executando "Sapporo", de Toshi Ichiyanagi, uma peça que eu já havia tocado umas três vezes. E, naturalmente, também houve uma maravilhosa apresentação da minha peça "Music for Clocks", pela Once Chamber Orchestra. Eu também apresentei uma peça teatral minha chamada "May 1962".
ASTRONAUTA - Em 1961 você participou de uma performance da Yoko Ono, no Carnegie Hall, em NYC. Quais são as suas lembranças do evento, e da Yoko Ono como pessoa?
PHILIP KRUMM - Eu estive com a Yoko apenas durante a performance, por volta de uma hora mais ou menos, mas ela foi muito legal comigo. Ela estava morando com Tony Cox na época, que também era um cara muito legal, com uma personalidade bacana e um ótimo senso de humor (e, ocasionalmente, alguns remédios excelentes). Ele me visitou em Ann Arbor uma vez, inclusive. Eu estive no apartamento do La Monte Young (ele me cumprimentou de dentro da sua banheira), e sua namorada na época era a maravilhosa poeta Diane Wakoski. Ela foi muito bacana e legal comigo, e me levou para andar por NYC, para conhecer pessoas, e foi assim que fui parar no concerto da Yoko. Isto foi no final de semana de Ação de Graças, em 1961. A Diane me apresentou à Yoko, que me perguntou se eu gostaria de participar do concerto. Meu grande amigo de muitos anos, George Brecht, estava lá também e nós, juntamente com o inacreditável saxofonista tenor Terry Jennings, providenciamos a música de fundo para as leituras de poesia da Yoko. Ela sentou-se num vaso sanitário e leu suas próprias poesias. George e eu tínhamos latas amarradas com cordas nos nossos tornozelos, e fazíamos vários sons de vozes, e Terry tocava notas longas no seu saxofone. De vez em quando o Tony Cox, de dentro do banheiro do camarim, acionava a descarga e captava com um microfone, e então enormes ruídos de descarga eram emitidos pelos grandes alto-falantes no palco. Era maravilhoso. E, naturalmente, naquele mesmo final de semana eu fui à pequena casa de Cage, em Stony Point, onde ele me deu uma cópia de "Silence", que havia sido recém publicado. Ele pegou uma cópia de dentro de uma caixa, que estava dentro do seu carro, desembrulhou o papel marrom que envolvia o livro, e me deu de presente. Quando eu perguntei se ele escreveria algo no livro para mim, ele disse: "Escrever algo? Mas eu já escrevi o livro todo!" Provavelmente ele tinha o melhor senso de humor entre todos os compositores que eu conheci. Eu dava risadas com ele a maior parte do tempo que estive por lá. Um grande cara, de verdade.
ASTRONAUTA - Antes de juntarem-se ao Grateful Dead, o Tom Constanten e o Phil Lesh eram artistas ativos no campo da música de vanguarda, como alguns outros artistas que migraram (ou que fizeram a ligação) entre a cena vanguardista e a emergente cena psicodélica-pop-rock. E, naturalmente por conta de algumas das principais (ou algumas das mais famosas) bandas de rock psicodélico vieram de San Francisco, a cidade parece ser uma espécie de ponto de intersecção entre a vanguarda e o rock. Qual a sua relação com a cena de vanguarda de San Francisco e a cena eletrônica de lá, no início dos anos 60? Você tinha bastante contato com os compositores de San Francisco e da região?
PHILIP KRUMM - Larry Austin era o meu contato com os músicos da Costa Oeste. Eu tive muita sorte de poder trabalhar com várias pessoas maravilhosas, incluindo (Dary) John Mizelle e também Art e Pat Woodbury (que se apresentava como "Billie Alexander"). Eles e alguns outros constituiam o New Music Ensemble (NME), e fizeram uma excelente estréia da minha peça "Sound Machine". Eu estava em Davis por seis meses, somente, e então as circunstâncias me fizeram retornar ao Texas. Foi um período muito difícil para mim, mas os músicos de Davis eram maravilhosos. Eu fui a San Francisco com alguns amigos, para assistir a estréia de "Tarot", do Morton Subotnick, uma peça com música e projeções. Foi muito agradável, e quando reencontrei-o, anos depois, ele disse que a havia abandonado. Eu também tive a sorte de ir a um concerto do Muddy Waters, no Avalon. Aconteciam concertos de rock importantes na UC Davis, que eu também tive a sorte de assistir: The Jefferson Airplane, Big Brother and The Holding Company, e The Grateful Dead, todos eles realizaram concertos muito legais. Minha única vez, eu acho, fazendo parte de uma dança com algumas centenas de pessoas. Fantástico.
ASTRONAUTA - E sobre a cena de rock no Texas? Você gerenciou algumas bandas de rock por um tempo, e também teve uma empresa que prestava serviços de iluminação nos anos 60, correto? Qual era a ligação entre as artes de vanguarda e o rock psicodélico no Texas naquela época? Você tinha contato com o Roky Erickson e o Tommy Hall (dos 13th Floor Elevators) e outras bandas de rock dos anos 60? E sobre outra banda texana de rock psicodélico, com influências da música de vanguarda, o Red Krayola do Mayo Thompson, você tinha contato com eles?
PHILIP KRUMM - Eu conheci os 13th Floor Elevators bem no comecinho, logo que eles lançaram seu primeiro 45 rotações com "Tired to Hide" e "You're Gonna Miss Me", mais ou menos em 1964. Eles eram todos pessoas muito espertas e interessantes, e eu mantive contato com eles até o final da banda, ocasião que eu não só estava presente para ver, mas também participei, digamos assim. Por volta de 1968 - um ano muito importante para quase todos - o Roky tinha ido muito longe no consumo de ácido e outras coisas que ele havia consumido durante os '60s. Um dos meus vários trabalhos voluntários na HemisFair - a feira mundial de San Antonio, que estava ocorrendo na época - era organizar os concertos no Pavilhão da Juventude, e nós realizamos vários concertos ótimos, incluíndo os Elevators. Mas no outro lado da rua onde ficava a HemisFair havia uma banda de rock que tinha um local para shows em Houston. O gerente era - em primeiro lugar - um cara rude e desagradável, que tratava todos os músicos como se fossem merda de gato, achava que eles deveriam ser colocados nos seus devidos lugares. Os Elevators estavam escalados para tocar lá, numa noite de sábado, mas ninguém nem sequer comentou nada sobre isso comigo. O Roky tinha ficado amigo de um veterano da guerra do Vietnam, Charlie Powell, um cara maravilhoso, mas que havia ficado - como diziamos na época - Traumatizado de Guerra, hoje em dia o termo usado é Transtorno de Estresse Pós-traumático. Ambos estavam muito lesados para comunicarem-se efetivamente com a maioria de nós, mas davam-se muito bem entre eles dois. Eu tinha um carro funerário Cadillac na época, que eu trouxe da California em 1966. O Charlie e o Roky apareceram e pediram se eu podia emprestar o carro para eles irem a Austin. Eu disse "claro", e lá foram eles.
Alguns minutos depois, o Tommy Hall apareceu, procurando pelo Roky. Eles estavam escalados para se apresentarem no clube de rock, e o gerente já estava de mal humor e, naquela altura, Roky já estava a caminho de Austin no meu carro funerário. O Tommy disse, "sem o Roky estamos ferrados." Então eu fui com o Tommy até o bar de rock e vi ele aguentar os xingamentos do gerente de cabeça quente e abusado, feliz em colocar tudo para fora e insultar a banda de rock mais extraordinária e legal que o Texas já produziu. Eu tive a oportunidade de reencontra-lo depois, naquele mesmo ano. Ele disse que se sentia mal pela maneira que ele lidou com a banda, mas que sua experiência lidando com bandas por anos e anos o fazia vê-los como ovelhas estúpidas.
Aquele foi o fim dos concertos deles juntos. Eu ouvi que um show dos Elevators aconteceria em Ingram um ano ou mais tempo depois, no Old Dog Saloon, mas quando eu cheguei lá era só o Roky com seus amigos, não tinha nenhum Elevators por lá. Eu, educadamente, disse que aquilo não era legal, que ele não devia fingir que era os Elevators. Eu acho que ele jea sabia disso, então eu só reforcei um pouquinho mais. Ele nunca mais repetiu aquilo. Eu devo dizer também que, não importava o quão doidão ele estava, ou sóbrio, ele sempre lembrava de mim e do meu nome, o que era sempre algo maravilhoso e surpreendente para mim. Ele sempre foi, e permanece, um cara legal.
Aquele foi o fim dos concertos deles juntos. Eu ouvi que um show dos Elevators aconteceria em Ingram um ano ou mais tempo depois, no Old Dog Saloon, mas quando eu cheguei lá era só o Roky com seus amigos, não tinha nenhum Elevators por lá. Eu, educadamente, disse que aquilo não era legal, que ele não devia fingir que era os Elevators. Eu acho que ele jea sabia disso, então eu só reforcei um pouquinho mais. Ele nunca mais repetiu aquilo. Eu devo dizer também que, não importava o quão doidão ele estava, ou sóbrio, ele sempre lembrava de mim e do meu nome, o que era sempre algo maravilhoso e surpreendente para mim. Ele sempre foi, e permanece, um cara legal.
Na verdade, o membro dos Elevators que manteve maior contato comigo, por mais tempo, e passou mais tempo conversando comigo sobre eles, e sobre as suas experiências, foi o Stacy Sutherland. Ele era um cara muito esperto e literato, e tinha uma maneira muito legal de analisar toda a história pela qual eles haviam passado durante os turbulentos anos 60. Ele foi o responsável pelo último disco, "Bull of the Woods", organizando tudo; ele foi o responsável pela maior parte do trabalho de produção no disco, e escreveu a maior parte do material. Ele tinha me prometido trazer as letras em um papel, já que as palavras no disco eram difíceis de serem entendidas mas - como muitas pessoas temiam que fosse acontecer - sua esposa atirou nele e o matou, antes que ele pudesse cumprir com a promessa. Foi uma perda estúpida e triste, de um cara legal e um grande amigo. Ele está enterrado no Center Point.
Respondendo a sua pergunta, eu não conhecia o pessoal dos Krayola, mas gostava do álbum deles. Eu conhecia várias bandas da época, Bubble Puppy, Jay Hoyer, mais do que eu consigo lembrar agora. Foi um período maravilhoso da minha vida.
Naturalmente eu gerenciei (digamos assim) duas bandas de rock excelentes, uma chamada "Rachel's Children", e a outra chamada "The Children". Exceto por um baterista que eventualmente participou das duas bandas, elas não eram relacionadas, e já haviam sido batizadas antes de me encontrarem. Os Rachel's Children eram artistas genuínos, músicos brilhantes e muito criativos, mas de alguma maneira ainda faltava experiência profissional. Quando eles não estavam a fim de tocar, eles não tocavam. Mas raramente eles pegavam shows que não fossem fazer. Já os The Children, por outro lado, eram totalmente dedicados e podiam relizar concertos mesmo que estivessem muito doentes. Mais tarde eles se juntaram com Lou Adler, que lhes conseguiu um álbum em uma grande gravadora ("Rebirth", pela Atco, relançado em CD pela Gear Fab.) Eles mereceram todo o reconhecimento que tiveram, e muito mais. Dois deles morreram cedo, Steve Perron e Bill Ash, ambos caras maravilhosos e ótimos músicos. E a cantora, Cassell Webb, era e permanece muito bonita e talentosa. Os Rachel's Children também fizeram gravações maravilhosas. Eles se juntaram ao famoso autor William F. Brammer ("Billy"), que admirava muito a banda. Um dia ele disse ao guitarrista Don Harding (que também morreu jovem) que ele (Brammer) era a única pessoa que ele conhecia acima dos 50 anos de idade que ainda injetava speed. Três semanas ou um pouco mais depois disso, ele estava morto, e as gravações desapareceram com ele. Eu conheci o Bill Brammer enquanto trabalhava na HemisFair, onde ele tinha um cargo no alto escalão. Ele teve um best-seller alguns anos antes disso, um livro chamado "The Gay PLace", que não tinha nada a ver com gay, e sim era uma estória ficticia sobre Lyndon Johnson. Eu notei que depois da morte de Bill, os agentes literários re-imprimiram "The Gay Place" em uma edição de capa simples, com o nome alterado para "Billy Lee Brammer". Isso me incomodou muito. Em nenhum momento durante os dois anos e meio que eu convivi com ele, ninguém o chamou de "Billy Lee". Ele publicou o livro como "William F. Brammer". Eu acredito que o nome "Billy Lee" foi uma jogada publicitária para fazê-lo soar como mais "texano". Mas é um ótimo livro, sem sombra de dúvida. E a morte de Bill foi uma perda muito triste para todos nós, que o conhecíamos.
Respondendo a sua pergunta, eu não conhecia o pessoal dos Krayola, mas gostava do álbum deles. Eu conhecia várias bandas da época, Bubble Puppy, Jay Hoyer, mais do que eu consigo lembrar agora. Foi um período maravilhoso da minha vida.
Naturalmente eu gerenciei (digamos assim) duas bandas de rock excelentes, uma chamada "Rachel's Children", e a outra chamada "The Children". Exceto por um baterista que eventualmente participou das duas bandas, elas não eram relacionadas, e já haviam sido batizadas antes de me encontrarem. Os Rachel's Children eram artistas genuínos, músicos brilhantes e muito criativos, mas de alguma maneira ainda faltava experiência profissional. Quando eles não estavam a fim de tocar, eles não tocavam. Mas raramente eles pegavam shows que não fossem fazer. Já os The Children, por outro lado, eram totalmente dedicados e podiam relizar concertos mesmo que estivessem muito doentes. Mais tarde eles se juntaram com Lou Adler, que lhes conseguiu um álbum em uma grande gravadora ("Rebirth", pela Atco, relançado em CD pela Gear Fab.) Eles mereceram todo o reconhecimento que tiveram, e muito mais. Dois deles morreram cedo, Steve Perron e Bill Ash, ambos caras maravilhosos e ótimos músicos. E a cantora, Cassell Webb, era e permanece muito bonita e talentosa. Os Rachel's Children também fizeram gravações maravilhosas. Eles se juntaram ao famoso autor William F. Brammer ("Billy"), que admirava muito a banda. Um dia ele disse ao guitarrista Don Harding (que também morreu jovem) que ele (Brammer) era a única pessoa que ele conhecia acima dos 50 anos de idade que ainda injetava speed. Três semanas ou um pouco mais depois disso, ele estava morto, e as gravações desapareceram com ele. Eu conheci o Bill Brammer enquanto trabalhava na HemisFair, onde ele tinha um cargo no alto escalão. Ele teve um best-seller alguns anos antes disso, um livro chamado "The Gay PLace", que não tinha nada a ver com gay, e sim era uma estória ficticia sobre Lyndon Johnson. Eu notei que depois da morte de Bill, os agentes literários re-imprimiram "The Gay Place" em uma edição de capa simples, com o nome alterado para "Billy Lee Brammer". Isso me incomodou muito. Em nenhum momento durante os dois anos e meio que eu convivi com ele, ninguém o chamou de "Billy Lee". Ele publicou o livro como "William F. Brammer". Eu acredito que o nome "Billy Lee" foi uma jogada publicitária para fazê-lo soar como mais "texano". Mas é um ótimo livro, sem sombra de dúvida. E a morte de Bill foi uma perda muito triste para todos nós, que o conhecíamos.
Minha empresa de iluminação se chamava "Light/Sound Development", e contava com muitos amigos queridos, como o David King, um artista visual talentoso, Richard Moore, Pat Finch e outros. Eu havia visto os lightshows no Avalon e no Fillmore, mas minha maior influência era bem anterior, o Ann Arbor Space Theatre, criado por Milton Cohen. Ashley, Mumma e eu haviamos feito músicas para aqueles lightshows e projeções maravilhosos. Quando eu voltei do Michigan para o Texas, imediatamente (em 1963) comecei a construir um sistema de projeção giratório baseado no de Milton, e tive a ajuda de um dos gênios nascidos em San Antonio, Charlie Winans. Nós juntamos um fabuloso toca-discos, coberto com espelhos fixos e móveis, sistemas de prismas, e um globo de espelhos meticulosamente construído no meio. O toca-discos era cercado por filmes e projetores de slides, e várias outras fontes de projeção de luz, todas apontadas para o toca-discos, e o efeito da luz se espalhando por qualquer ambiente era muito psicodélico e original. Mas nós também utilizavamos retro-projetores, e consegíamos produzir magníficos lightshows. Nós trabalhamos na abertura do primeiro clube psicodélico de San Antonio, "The Mind's Eye", com shows dos os 13th Floor Elevators e os Rachel's Children. Mas a maior conquista foi um concerto dos Rachel's Children mais tarde, no Pavilhão da Juventude da HemisFair. Nós tínhamos muito mais equipamento à nossa disposição: sete ou oito retro-projetores, quatro projetores de filmes, um projetor de slides stereo e também alguns comuns, e nosso sistema de iluminação e espelhos central. A banda estava maravilhosa naquela noite e a nossa equipe de lightshow estava no auge, e aquele foi um dos mais surpreendentes eventos musicais-culturais-tecnológicos de alteração de realidade coletiva, onde todos os participantes estavam, pelo menos por alguns minutos, totalmente juntos em uma experiência transformadora. Quando acabou, o supervisor do Pavilhão da Juventude me olhou com uma expressão espantada e disse: "Esta foi uma das coisas mais surpreendentes que eu já vi!" E tinha sido mesmo, todos sabíamos. Foi um daqueles eventos que tornam a vida na música e nos concertos incrível, principalmente porque acontecem muito raramente.
Eu não posso deixar estas memórias da música no Texas sem mencionar a incrível genialidade de Jerry Hunt. Nós nos conhecemos no 'Pataphysics Festival, do Roger Shattuck, no final da primavera ou início do verão de 1963. Eu tinha conhecido o Roger algum tempo antes, quando ele havia me convidado para jantar na casa dele, com sua esposa, e eu dei-lhe uma cópia da minha composição para tabuleiro de jogos "Lincoln Center". Mais tarde, ele me convidou para o Festival e eu apresentei uma peça minha com Gordon Mumma, "Four Part Music". Eu conheci o Jerry depois da sua surpreendente performance, e nós nos tornamos amigos na hora. Uma experiência de aproximação que tivemos foi uma viagem muito cansativa que fizemos no seu Renault Dauphine (com o banco traseiro cheio de equipamentos eletrônicos) até a Brandeis University, onde realizamos um concerto com o Alvin Lucier. O concerto foi magnifico, mas a viagem foi terrível, conto maiores detalhes em outra ocasião. Jerry e eu realizamos vários outros concertos juntos, bem como um programa de TV para a KLRN (em 1964), que foi emitido simultâneamente pelo rádio, e eu mantive contato com ele até um pouco antes do seu suicídio. Foi uma perda dolorosa e eu ainda posso ouvir sua voz muito particular, que ouvi em tantas ligações telefônicas longas e interessantes nos anos que tivemos contato.
ASTRONAUTA - E como foi seu primeiro contato com os Sintetizadores de Música Eletrônica, especialmente com o Sintetizador Moog?
PHILIP KRUMM - O primeiro sintetizador que eu tive a oportunidade de utilizar foi um pequeno Buchla, na UC Davis. Não tinha teclado, apenas plugs e cabos conectando os módulos. Eu produzi alguns ritmos simples, gravei eles, e acabei vendendo-os, cobrando muito barato obviamente, para uma agência que fazia comerciais da Volkswagen. Eu escutei alguma coisa deste material no rádio, algumas vezes. Eu utlilizei, sem pedir autorização, alguns sintetizadores na Trinity University, aqui em San Antonio: um deles era um Electro-Comp, que tinha um teclado impresso na tampa do sintetizador. Jerry Hunt tinha alguns filtros da Moog no seu estúdio, que eu utilizei algumas vezes. Eu conheci o Bob Moog quando a Alamo Piano Company o trouxe para uma palestra/demonstração, provavelmente em 1969. Mas eu nunca utilizei um Sintetizador Moog propriamente dito. Eu toquei em um concerto (em 1967?), tocando com um grupo de rock Cristão, num lance chamado "Truth of Truths". Eles me deixaram ficar com um Sintetizador ARP por cerca de seis semanas antes do concerto. Eu gravei muito material com ele, e a maior parte do que gravei eu ainda tenho. O ARP era provavelmente o meu sintetizador preferido, entre todos os sintetizadores que eu utilizei. Como eu não era um devoto, propriamente dito, do cristianismo, o concerto foi um desafio para mim; mas tudo que eu tinha que fazer eram alguns sons eletrônicos de fundo para a voz de "Deus" de vez em quando. "Deus" era interpretado por um conhecido pastor Batista de San Antonio, chamado Buckner Fanning.
ASTRONAUTA - E quais as suas lembranças de quando conheceu e estudou com Karlheinz Stockhausen na UC Davis, na metade dos anos 60?
PHILIP KRUMM - Stockhausen foi um ponto de luz em um período difícil para mim. Era verão de 1966. Eu havia sido convidado para a UC Davis por um proeminente compositor que era do corpo docente lá. Um amigo e eu dirigimos até a California no meu Corvair, que precisava ficar sempre na terceira marcha, com a caixa de câmbio fixada com um cano de bicicleta preso nos assentos. A viagem foi terrível, mas quando eu cheguei lá e descobri que não teria nenhuma assistência do departamento de música, as coisas ficaram muito piores. Eu encontrei com o Stockhausen quando o Bob Ashley estava visitando o Mills College. Ele gostou de mim, eu acho, e me convidou para almoçar com ele. Nós concersamos principalmente sobre a minha experiência em Ann Arbor alguns anos antes, e caminhamos por um tempo, falando sobre os compositores que eu havia conhecido. Ele me disse que não se importaria se eu frequentasse suas palestras, já que havia viajado de tão longe e não teria nenhum apoio da escola.
Eu dei um jeito de frequentar algumas de suas palestras antes que tive que retornar ao Texas. Ele falou sobre suas principais composições, e sobre o processo de como as realizou, principalmente as pecas "Carre" e "Kontra-Punkte"; "Mikrophonie 1" havia sido recém lançada em LP pela Columbia, e ele falou sobre como realizou aquela grande peça. Então, tempo e dinheiro começaram a diminuir e eu tive que voltar para casa. Eu o vi em Clear Lake City alguns anos depois, em uma performance da peça "Sirius", com Markus no trumpete, uma apresentação magnífica. Eu fui falar com ele depois do concerto, e disse-lhe que havia dirigido de San Antonio até Clear Lake City para vê-lo. Ele apertou minha mão com força e disse, "Você é um anjo!"
ASTRONAUTA - Na sua entrevista com Josh Ronsen você mencionou que existem gravações de algumas das suas peças, apresentadas no ONCE Festival e no ONCE Friends, que não foram lançadas no Box Set que saiu em 2003 pela New World Records. Você planeja lançar estas gravações?
PHILIP KRUMM - Há uma gravação da peça que eu consideraria minha opus um, caso eu utilizasse opus para ordenar minhas pecas, coisa que eu não faço. Chama-se "Paragenesis", para dois violinos e piano. Foi apresentada e gravada em um concerto no "Once Friends", por Karin Fierce, Lana Nail e Larry Leitch. Eu acho que será lançada algum dia. Também, o selo New Albion gravou o concerto com a estréia da minha peça "Banshee Fantasia", que foi feito sob encomenda da Bay Area Pianists em 1996, em homenagem ao centésimo aniversário de Henry Cowell. A peça foi executada por "Blue" Gene Tyranny entre duas versões diferentes de "The Banshee", do Cowell. Eu acho que este álbum será lançado algum dia também. Enquanto escrevo, a Idea Records está preparando um LP com alguns dos meus primeiros trabalhos eletrônicos, um dos quais foi realizado no estúdio do Gordon Mumma, em Ann Arbor. A Idea faz trabalhos muito bonitos, e lançou em CD "Formations", um trabalho que eu compus utilizando mapas astrais, em 1962. A belíssima gravação de "Blue" Gene estava em péssimo estado antes de ser tranferida para o formato digital, mas o resultado me fez cair para trás quando eu ouvi pela primeira vez a master para o disco. Na minha casa existem algumas fitas com alguns dos meus primeiros trabalhos, bem como partituras para "Taming of the Shrew", uma sonata para piano e flauta ("Autumn Sonata"), que foi escrita de modo que o flautista pudesse acompanhar ele mesmo, e também tenho em casa algumas das minhas primeiras pecas orquestrais. Não tenho idéia do estado que estão as fitas. Espero que elas possam ser propriamente copiadas algum dia. O selo Opus One lançou a gravação de Scott Vance para minha peça Bass Clarinet Concerto, sob direção do grande Barney Childs. Também há uma gravação ótima feita por Martin Walker, que será lançada algum dia, eu espero. E eu tenho uma fita com o concerto que Jerry Hunt e eu fizemos com Alvin Lucier e com a Brandeis Orchestra em 1963. Seria um material interessante para ser lançado algum dia, como documento histórico.
ASTRONAUTA - Bom, é isto, Mr. Krumm. Muito obrigado pelo seu tempo, e por aceitar meu convite para esta entrevista!
PHILIP KRUMM - Obrigado, Fabricio. Eu sou muito grato a você, por esta oportunidade de solidificar algumas lembrancas importantes. Eu espero que não tenha muito trabalho com a tradução; provavelmente haverão alguns momentos problemáticos. Gostaria de ver o quanto estas breves lembrancas históricas serão de interesse para alguém, no futuro.
Philip K.
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