Bruno Alexander Spoerri nasceu no dia 16 de agosto de 1935, em Zurique, Suiça. Ele estudou piano por algum tempo na sua juventude, mas mudou para o saxofone logo em seguida, e foi justamente tocando saxofone que Bruno Spoerri fez parte de várias bandas de jazz na Suiça. Em Basel e em Zurique, Bruno frequentou a universidade e graduou-se em psicologia e, em seguida, trabalhou como psicólogo e orientador vocacional. Em 1964, ele foi convidado para trabalhar em uma agência de publicidade e começou a se envolver com a música eletrônica, primeiramente utilizando um Ondes Martenot e, na sequência, adquirindo vários sintetizadores e também fazendo experiências com saxofones eletrificados e sintetizados.
Em 1970, Bruno Spoerri gravou o disco "Jazz-Rock Experience", com uma das bandas que ele fazia parte, tocando saxofone e saxofone sintetizado. Muito interessado pelos instrumentos da empresa inglesa EMS, em 1970 Bruno adquiriu um VCS-3 e um dos raros Synthi 100 fabricados pela empresa. Em 1974, ele gravou o disco "Iischalte (Switched-on Switzerland)", um album de música eletrônica muito divertido e interessante. No disco "Voice Of Taurus" (1978), Bruno experimentou com vários instrumentos de sopro sintetizados e também com jazz-rock e rock. Em 1981, ele e o tecladista Irmin Schmidt (da banda alemã CAN) gravaram juntos um álbum - "Toy Planet"- lançado pela Spoon Records. Bruno é co-fundador do"Swiss Society For Computer Music" e, entre 1985 e 2000, Bruno foi co-diretor do "Swiss Center For Computer Music". O disco "Gluckskugel" foi lançado em 2006, com músicas gravadas e compostas por Bruno Spoerri entre 1971 e 1980.
Entrei em contato com Bruno Spoerri por email há algumas semanas, logo após minha entrevista com Joel Chadabe, em agosto. Joel citou o nome de Bruno, pois os dois haviam trabalhado juntos em algumas ocasiões. Bruno foi muito gentil em aceitar meu convite para esta entrevista e eu fico muito lisonjeado e grato com a oportunidade de manter contato com este grande pioneiro da música eletrônica feita na Suiça. Aqui está a entrevista!
ASTRONAUTA - Bruno, quais foram seus primeiros passos na música, o primeiro instrumento que você aprendeu a tocar e quais foram suas primeiras influências musicais? Como e quando você se interessou pela música eletrônica?
BRUNO - Aproximadamente aos seis anos de idade, eu comecei com o piano, mas depois de uma experiência frustrada com um professor de piano muito rígido eu fui procurar outro instrumento. Também percebi que a guitarra não era o meu instrumento, então mudei para o saxofone. Na década de 1950, o be-bop e o cool jazz eram os rítmos da juventude e meus ídolos eram Charlie Parker e, mais tarde, Gerry Mulligan e Lee Konitz. Eu obtive algum sucesso, ganhei algumas competições e toquei com alguns dos melhores músicos de jazz da Suiça. Mas eu também tinha interesse em outro tipo de música, especialmente Strawinsky, Bartok, assisti a vários concertos (minha mãe era violinista da orquestra sinfônica de Basel). Então, em 1955, eu fui a um concerto muito excitante, com Ginette Martenot tocando o Ondes Martenot e Oskar Sala com seu Mixturtrautonium. Eu comecei a ler sobre música eletrônica, mas era quase impossível alcançar a "torre de marfim" que era a música eletrônica na época (especialmente para um músico de jazz). Depois de concluir meus estudos de psicologia, trabalhei como terapeuta profissional mas na época eu estava me dedicando cada vez mais em arranjar e compôr, criando música para alguns filmes curtos. No fim de 1964 o chefe de uma agência de publicidade me chamou e ofereceu um emprego de "Tongestalter" (o que hoje poderíamos chamar de sound designer) na sua nova companhia cinematográfica, produzindo principalmente comerciais para a TV. Eu aceitei e tinha que produzir muitas músicas com pouco dinheiro e estávamos em competição acirrada com outras companhias. Então eu me lembrei do contato que tive com instrumentos eletrônicos e trouxe o único instrumento que estava disponível na época, um Ondes Martenot, e com este instrumento eu passei a produzir jingles, compus para alguns documentários e filmes experimentais e também utilizei na minha banda de jazz.
ASTRONAUTA - Você ainda possui ou utiliza algum sintetizador analógico?
BRUNO - A maior parte do meu equipamento analógico foi vendida (a maioria para o notável Synthorama, do suiço Martin Hollinger), mas eu ainda tenho meu primeiro sintetizador - um EMS VCS-3 de 1970 -, um ARP 2600 com o sequencer e o Lyricon I e II. Eu utilizo o Lyricon bastante em apresentações, os outros equipamentos eu uso basicamente para demonstrações aos visitantes.
ASTRONAUTA - No começo dos anos 70 você comprou um EMS Synthi 100, inclusive eu acho que você foi uma das poucas pessoas no mundo a ter um sintetizador destes. Como e quando você adquiriu o seu EMS Synthi 100? Você ainda o possui?
BRUNO - Eu adquiri o Synthi 100 em 1971. Em 1987 eu dei ele ao Felix Visser (Synton), na troca por um Fairlight CMI; alguns anos mais tarde, o Felix vendeu o Synthi 100 em um leilão. Eu não tenho conhecimento de onde esteja este sintetizador hoje em dia (mas eu o reconheceria, ja que fiz algumas pequenas alterações no Synthi 100).
ASTRONAUTA - Também nos anos 70, você fez experiências com saxofones eletrificados. Qual era o processo que você utilizava para eletrificar seus instrumentos de sopro?
BRUNO - Como um saxofonista e jazista improvisador, eu sempre procurei por maneiras de tocar sintetizador sem o teclado. Em 1967 eu tive a chance de experimentar um Selmer Varitone, mas (era muito caro) e eu mudei para o Conn Multivider e, mais tarde, para o Hammond Condor. Eu utilizei o Multivider em vários concertos (em 1969 nos apresentamos no Montreux Jazz Festival com nossa banda de jazz-rock, e lá eu conheci o Eddie Harris). Em 1972 eu passei a utilizar o EMS pitch-to-voltage-converter com o saxofone em concertos (juntamente com o VCS-3, eu podia tocar harmonias com três notas e até mesmo algumas melodias de contraponto) e em 1975 eu vi um anúncio do Lyricon e encomendei um imediatamente.
ASTRONAUTA - Encontramos várias informações sobre os primórdios da música eletrônica feita nos Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Japão, mas infelizmente temos pouca informação sobre a música eletrônica feita em outros países. Como era trabalhar com música eletrônica na Suiça nos anos 60 e 70?
BRUNO - Bem, eu escrevi um livro sobre isto (Musik aus dem Nichts, Geschichte der elektroakustischen Music in der Schweiz), que cobre a história toda - aliás, está apenas em alemão, ja que ninguém se prontificou a traduzi-lo. A maioria dos meus colegas do jazz odiavam a música eletrônica (mas eles também odiavam o jazz-rock). No mundo dos comerciais, por outro lado, eu tive muitas chances: eu pude fazer programas de TV, vinhetas para TV, várias músicas para filmes e alguns LPs (como, por exemplo, com Erich von Däniken), etc.
Mais informações no site oficial do Bruno Spoerri: http://www.computerjazz.ch/
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