Wednesday, August 20, 2014

Entrevista com Bernard Fèvre


Bernard Fèvre nasceu no dia 29 de Abril de 1946, e cresceu em um subúrbio operário, distante cinco quilômetros de Paris, França. Na infância, ele costumava escutar peças de compositores clássicos, como Chopin, Debussy e Ravel. Também ouvia jazz, que ele conhecia através de programas de rádio. Bernard interessou-se e passou a tocar piano aos 4 anos de idade. No início dos anos 60, ele interessou-se pela música popular, principalmente de artistas norte-americanos (como Ray Charles e outros) e ingleses (como os Beatles e outras bandas). Aos 14 anos de idade, Bernard largou a escola para trabalhar em uma fábrica durante o dia e tocar em uma banda, que se apresentava em casas noturnas. A banda tornou-se seu emprego oficial e aos 17 anos de idade, ele já estava ganhando a vida como músico profissional.

Na metade dos anos 60, aos 18 anos de idade, Bernard Fèvre teve que prestar seu serviço militar obrigatório e foi para a Alemanha, permanecendo lá por 16 meses. Tão logo ele retornou à França, reencontrou seus colegas e juntou-se novamente a eles, em uma nova banda, com quem ele viajou por toda a França, em apresentacões. Bernard Fèvre tocou nesta banda por cerca de 10 anos.

"Suspense", o primeiro álbum solo de Bernard Fèvre, foi lançado em 1975. Gravado em um pequeno apartamento na cidade de Paris. Utilizando somente um gravador TEAC de 4 canais, alguns sintetizadores e efeitos, "Suspense" é um ótimo exemplo dos primórdios da música pop eletrônica e também um ótimo exemplo de gravação caseira, assim como os discos seguintes lançados por Bernard Fèvre, "The Strange World Of Bernard Fèvre" e "Cosmos 2043" (almbos lançados em 1977).
A música contida nestes 3 discos poderia facilmente cair no setor de "Library Music" mas, muito além disto, estes albuns mostram uma pesquisa muito cuidadosa sobre os meios eletrônicos utilizados para criar uma música muito agradável, além de serem a gênese do projeto seguinte de Bernard Fèvre - e o projeto pelo qual ele alcançou reconhecimento internacional: Black Devil Disco Club.


Gravado e lançado em 1978, o primeiro álbum do Black Devil Disco Club é uma das grandes obras-primas da "disco music". Creditado a Junior Claristidge e Joachim Sherylee (na verdade nomes artísticos do Bernard Fèvre e do Jacky Giordano para este projeto, sendo que o segundo é creditado como co-autor das letras), Black Devil Disco Club foi gravado nos suburbios de Paris, novamente utilizando apenas sintetizadores, tape loops e um baterista ocasional. A RCA foi a gravadora que lançou o disco originalmente. Em 2004, o disco original foi relançado pela Rephlex Records e em 2006 o Black Devil Disco Club foi reativado oficialmente, e Bernard Fèvre lançou o segundo álbum do projeto, "28 After" (como o título deixa bem claro, depois de 28 anos do lançamento do primeiro disco), via o selo inglês Lo Recordings. O mesmo selo foi responsável, em 2009, por uma versão atualizada do disco originalmente lançado em 1975, "The Strange World of Bernard Fevre", e também por outros álbuns do Black Devil Disco Club - "Black Devil In Dub", 2007, "Eight Oh Eight", 2008, "Circus", 2011 (com participações de Nancy Sinatra, Jon Spencer e Afrika Bambaataa), e o recente "Black Moon White Sun", lançado em Outubro de 2013. Um documentário chamado "Time Traveler: The Strange World Of Bernard Fevre" está em processo de montagem, no momento, sob responsabilidade da companhia inglesa Multiny Media.

Meu primeiro contato com Bernard Fèvre para esta entrevista foi através da sua página oficial no Facebook e, a partir daí, via Olivier Rigout, que gentilmente encaminhou meus emails para o Bernard. O texto da entrevista foi originalmente enviado em francês pelo Sr. Fevrè. Você pode checar o texto original logo a pós a tradução da entrevista, no final deste post). Eu gostaria de agradecer muito ao Bernard Fevrè e aos Olivier por esta oportunidade de entrevistar um dos grandes nomes da música eletrônica francêsa! E aqui está a entrevista:


ASTRONAUTA - Bernard, quais os artistas ou bandas que você lembra como sendo suas primeiras influências? E como você decidiu que seguiria a carreira de músico profissional?

BERNARD FÈVRE - Muitos artistas me atraíram para a música, e minhas escolhas sempre foram muito variadas. Noa nos 50, eu amava Chopin, Debussy, Ravel, e também artistas como Edith Piaf, que eu gostava mas não sabia o nome. Eu sempre adorei ouvir rádio, porque eu amava todos os tipos de música da minha época. Meu programa de rádio favorito era um chamado "Para aqueles que amam o Jazz".

Nos anos 60, a música que mais me atraía vinha principalmente da América, da Inglaterra e do Brazil. Eu acho que , na época, estes eram os 3 países que produziam as coisas que mais tinham alma. Eu amava Ray Charles, Stevie Wonder, Quincy Jones, Diana Ross &The Supremes, The Rolling Stones, The Animals, The Beatles, The Yardbirds, Sergio Mendes, Stan Getz, Vinicius de Moraes, e outros compositores de Bossa Nova, que eu conheço, mas não sei os nomes.

Duas coisas me fizeram decidir trilhar o caminho da música: 1) o instinto irremediável que me levou a tocar piano por conta própria, sem formalmetne aprender e 2) aos 18 anos de idade, um desejo imenso de não trabalhar em uma fábrica, como meu pai, que eu raramente via por conta da insana jornada de trabalho.

ASTRONAUTA - Como você se interessou pela música e pelos instrumentos eletrônicos? Qual foi seu primeiro instrumento musical eletrônico?

BERNARD FÈVRE - Depois de ter tocado teclados acústicos e elétricos em bandas, logicamente eu me interessei por "eletrônicos e sintetizadores". Então eu adquiri meu primeiro sintetizador Korg, em 1973. Este sintetizador foi e ainda é o elemento principal no desenvolvimento do BDDC e de Bernard Fèvre.

ASTRONAUTA - Você morou na Alemanha por um tempo, nos anos 60, certo? A música e as artes produzidas na Alemanha influenciaram de alguma forma na sua carreira? Quais artistas e bandas você escutava na época?

BERNARD FÈVRE - Eu morei na Alemanha por 16 meses apenas, em um acampamento do exército Francês, onde não haviam alemães, infelizmente. E eu raramente saía, porque eu não tinha dinheiro. Ainda assim eu assisti alguns concertos na cidade, na maioria algumas das primeiras bandas de Krautrock, decadentes, que me surpreendiam mais pelo visual :) Eu vim a conhecer o Kraftwerk bem depois, na França. Eu era influenciado pelo Vangelis Papatanasious, bem mais Grego! Se você ouvir minhas batidas (no BDDC), você encontrará mais elementos da música sul-americana do que alemã :) No geral, eu evito influencias porque eu sou muito influenciável. Ennio Morricone e François de Roubaix eram, na Europa, os músicos que faziam as trilhas sonoras que eu mais amava.

ASTRONAUTA - Como você gravou seus primeiros discos - Suspense (1975), The Strange World Of Bernard Fevre (1975) e Cosmos 2043 (1977)? Como foi o processo de gravação destes albuns?

BERNARD FÈVRE - Eu gravei tudo em um pequeno apartamento, de mais ou menos 9 metros quadrados, na região Paris 75010, só com um gravador TEAC 4 canais e alguns efeitos fabricados na França, que se perderam no tempo...

ASTRONAUTA - Seu estilo musical mudou dos primeiros discos para o seu projeto seguinte, Black Devil Disco Club. Como foi esta transição para você?

BERNARD FÈVRE - Às vezes eu gosto de me sentar e às vezes eu gosto de levantar, mover minhas pernas e minha pelvis, como o "Elvis"... Então eu solicitei um bumbo "disco" ao espírito do Bernard Fevrè, e me tornei um pouquinho diabólico com isso, hehe!

ASTRONAUTA - Quais são seus projetos mais recentes e planos para o futuro (discos, concertos, etc.)?

BERNARD FÈVRE - Aqui estou eu, com um disco de Library Music (retornando às origens), misturando sons acústicos e sintetizados. Há um ano eu estou preparando o novo disco do BDDC, com influências mais claras do Brazil. Eu espero que eu consiga fazer. Na primavera de 2015, todo o meu catálogo dos anos 70 será republicado, graças a selos amigos ao redor do mundo. E, depois de 4 anos de trabalho duro do meu editor atual, Alter K, recuperamos os direitos de publicação da minha obra, fora de catálogo há 30 anos.

ASTRONAUTA - Existe um documentário sendo finalizado, sobre sua vida e música - "Time Travel: The Strange World Of Bernard Fèvre". Quais são as novidades sobre este filme, e quando ele estará disponível, será lançado? Você tem participação ativa na produção do documentário?

BERNARD FÈVRE - Sim, os britânicos estão entre os meus maiores apoiadores! Então, a empresa"Mutiny Media" já começou a produzir as primeiras imagens de um documentário, que será dedicado ao meu esquecimento e à minha retomada e redescoberta no mundo da música internacional. E eu sinto muito orgulhoso disto.

ASTRONAUTA - Uma última pergunta, Bernard, qual é o seu sintetizador preferido dos anos 70? Você ainda tem algum (ou todos) os instrumentos e equipamentos que você utilizava nos anos 70?

BERNARD FÈVRE - Eu amava os Moogs e os Korgs. Meu favorito é um Korg 700, sempre disposto a me ajudar! Eu tenho trabalhado em um velho Mac, com plugins do início do século 21. Eles já podem ser considerados "vintage", mas eu não quero me separar deles.



Texto original, em francês, enviado pelo Bernard Fèvre:

ASTRONAUTA - Quels musiciens ou groupes vous souvenez-vous que vos principales influences? Et comment avez-vous décidé de devenir musicien?

BERNARD FÈVRE - Beaucoup de musiciens m'ont attiré vers la musique et mon choix a toujours été très varié. Dans années 50 j'amais bien Chopin, Debussy, Ravel, et aussi les compositeurs de chanteurs comme Edith Piaf dont je ne savais pas le nom, j'ai toujours aimé écouté la radio car j'aime avant tout avoir un aspect général de la musique de mon époque. Ma primière émission de radio préférée s'appelait "Pour ceux qui aiment le jazz".
Dans les années 60 la musique qui m'a aimanté venait le plus souvent d'Amérique, d'Anglaterre et du Brésil je pense qu'à l'époque ces 3 pays produisaient des choses qui avaient beaucoup d'âme, j'aimais Ray Charles, Stevie Wonder, Quincy Jones, Diana Ross & The Supremes, Les Rolling Stones, Les Animals, Les Beatles, Les  Yardbirds, Sergio Mendes, Stan Getz, Vinicius de Moraes eu d'autres faiseurs de bossa nova dont je connais les mélodies mais non le nom.
Ce qui n'a décidé à prendre le chemin de la musique c'est 2 choses: 1) un instinct irrémédiable qui me poussait à jouer du piano sans avoir appris et 2) à 18 ans le désir profond de ne pas travailler dans une usine comme mon père que je voyais rarement vu ces horaires de travail insensés.

ASTRONAUTA - Comment t'es-tu intéressé à la musique électronique et instruments électroniques? Quel a été votre premier instrument de musique électronique?

BERNARD FÈVRE - Après été clavier de groupes de musique acoustique et électrique il était logique que je vienne vers l'électronique et la synthèse, j'ai donc acheté en 1973 mon premier synthé Korg, que j'ai toujours eu qui este un élément primordial de l'environnement de BDDC eu de Bernard Fèvre.

ASTRONAUTA - Vous avez vécu en Allemagne pendant un certain temps dans les années soixante, non? Comment la musique et les arts allemand n'ont influencé votre carrière musicale? Quels groupes avez-vous entendu à ce moment-là?

BERNARD FÈVRE - J'ai juste vécu à Berlin 16 mois dans une caserne de l'armée Française où il n'y avait pas de cours d'allemand malheureusement, et je ne sortais pas souvent par manque d'argent, j'ai quand même vu quelques concerts en ville qui étaient plutôt du rock décadent précurseurs de Kraut et qui me surprenaient par le look :) j'ai connu Kraftwerk bien plus tard en France. J'ai été influencé par Vangelis Papatanasious, donc plutôt grec! Si vous écoutez mes percussions (BDDC) vous y entendres plus de Sud Américan que de German Music :) De manière générale j'évite les influences car je suis très influençable. Ennio Morricone et François de Roubaix étaient, en Europe, des musiciens dont j'amais les musiques au cinéma.

ASTRONAUTA - Comment avez-vous enregistrer vos premiers albums - Suspense (1975), The Strange World of Bernard Fevre (1975) et Cosmos 2043 (1977)? Comment ça a été le processus d'enregistrement pour ces albums?

BERNARD FÈVRE - J'ai enregistré tout ça dans une "chambre de bonne" de 9 m2 environ, à Paris 75010, seul sur un tape recorder TEAC 4 tracks avec des FX Français qui ont tous disparus...

ASTRONAUTA - Votre style musical a changé depuis les premiers albums à votre prochain projet, Black Devil Disco Club. Comment c'était que la transition pour vous?

BERNARD FÈVRE - Parfois je suis assis et parfois debout avec l'envie de bouger les jambes et le pelvis "Elvis"... J'ai donc posée l'espirit Bernard Fèvre sur un kick disco et je suis devenu un peu diabolique, comme ça, HéHé!

ASTRONAUTA - Quels sont vos projets et les plans récents à l'avenir (albums, concerts, etc.)?

BERNARD FÈVRE - Là je suis sur un album de Library Music (retour aux sources) ce sera un mélange d'acoustique eu de synthés.
Je prépare depuis 1 an un prochain BDDC aves des influences plus marquées Brésil, j'espère réussir au printemps 2015 tout mes travaux des '70s von être réédités, grâce à des Labels amis dans le monde entier, et après 4 années de travail acharné d'ALTER K (mon éditeur actuel) pour récupérer mes droits d'éditions inexploitées durant 30 ans.

ASTRONAUTA - Il ya un documentaire en cours, au sujet de votre vie et de la musique - "Voyage dans le temps: The Strange World of Bernard Fevre". Y at-il des nouvelles de quand il sera disponible, quand il sera libéré? Êtes-vous actif sur la production de ce documentaire?

BERNARD FÈVRE - Oui, les Anglais sont toujours parmi mes plus grands supporters! Donc les productions "Mutiny Media"ont déjà tourné les premières images d'un docu qui sera consacré à mon oubli et ma redécouverte dans le monde de la musique internationale, je suis très fier de cela.

ASTRONAUTA - Une dernière question, quel était votre synthétiseur préféré dans les années soixante-dix? Avez-vous encore un peu (ou tous les instruments) et les équipements que vous avez utilisé dans les années soixante-dix?

BERNARD FÈVRE - J'aimais les Moog et les Korg, mon fétiche este un Korg 700 toujours prêt à m'aider! Je travaille sur un vieux Mac avec des plugins du début du 21ème siècle, ils sont déjà vintage mais je ne veux pas m'en séparer.

 

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